São Paulo, segunda-feira, 12 de junho de 1995
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Glauber ressuscita durante centenário

Livros e vídeo convidam à revisão

AMIR LABAKI
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

É hora de voltar a Glauber Rocha. O centenário do cinema reafirma o papel de primeiro plano dele na história.
Seu nome marca presença na cascata de cineastas homenageados no segundo dos dez filmetes preparado por Philippe Truffault para celebrar na França a efeméride.
Três novos livros e um videodocumentário voltam a discutir sua importância. Os volumes têm um eixo comum: devolvem-no ao contexto latino-americano em que se projetou, com a eclosão dos ``cinemas novos" dos anos 60. O crítico José Carlos Avellar situa Glauber na América Latina em dois lançamentos simultâneos.
O livrinho ``Deus e o Diabo na Terra do Sol" (118 págs.) chega ao mercado pela editora Rocco. Já ``A Ponte Clandestina - Teorias de Cinema na América Latina" (Edusp, 320 págs, R$ 19,00) sai do forno nesta semana.
``Deus e o Diabo" é um pequeno ensaio heterodoxo. Não discute organizada e diretamente a obra-prima de Glauber, passando ao largo das principais análises anteriores. Utiliza o filme ``Deus e o Diabo na Terra do Sol" (1964) como introdução ao conjunto da obra glauberiana. Tudo na escrita ultrapessoal de Avellar.
``A Ponte Clandestina", porém, é a grande obra de José Carlos Avellar. Glauber é figura central mas não isolado protagonista. O livro desnuda a complexa teia política, estética e fílmica que os vinculou.
Avellar examina em cada capítulo a evolução do pensamento cinematográfico de cada um deles, a articulação entre escritos e filmes próprios e o diálogo entre os textos e os filmes de todos eles. ``A Ponte Clandestina" se trata de leitura obrigatória para entender os últimos quarenta anos de história do cinema latino-americano. Voltando a Glauber, ``A Ponte Clandestina" rompe mitos e faz-lhe justiça. A figura messiânica e imprevisível com que Glauber saiu de cena e fixou-se no imaginário nacional tem minimizado a contribuição teórica dada por ele para o debate estético e cinematográfico brasileiro e internacional.
Na mesma linha insere-se ``Glauber Rocha e o Cinema Latino-Americano" de Geraldo Sarno (CIEC-UFRJ/Rio Filme, 112 págs.). De maneira geral, este ensaio do diretor de ``Coronel Delmiro Gouveia" (1978) levanta uma discussão que é bastante mais desenvolvida em ``A Ponte Clandestina". Ainda assim, podem interessar aspectos específicos de seu livro, como a ênfase na influência neo-realista ou o eficiente quadro sinóptico que permite cruzar a história política e cultural do continente de 1953 a 1971 com a trajetória de Glauber.
Por fim, o video. ``Glauber Rocha - Quando o Cinema Virou Samba", dirigido por José Roberto Torero, foi produzido como material didático pela secretaria da Educação de Minas. Em seus 35 fluentes minutos, o video transcende muito seu propósito escolar original. Ao lado de ``Que Viva Glauber" de Aurélio Michiles, é a melhor introdução audiovisual já realizada sobre Glauber. A trajetória de Glauber é reconstituída com surpresas; a desinformação geral é tratada com saudável bom humor. ``Glauber Rocha - Quando o Cinema Virou Samba" deveria passar em rede nacional para celebrar um dos raros gigantes brasileiros do século que foi também do cinema.

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