São Paulo, terça-feira, 13 de junho de 1995
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Bahia perde fábrica de cacau para EUA

JOSÉ ALBERTO GONÇALVES
DA REPORTAGEM LOCAL

A crise do cacau na Bahia está levou a Chadler, uma das principais indústrias processadoras de amêndoa no Brasil, a transferir sua fábrica em Salvador para os EUA.
Por causa da vassoura-de-bruxa (veja texto abaixo) e da seca entre dezembro e março, a colheita de cacau deve cair de 4,6 milhões de sacas de 60 kg, na safra 92/93, para 3,4 milhões em 94/95.
``Sem matéria-prima para moer, não tivemos outra alternativa do que transferir uma de nossas duas fábricas da Bahia", diz Urs Joho, diretor-superintendente da Chadler.
A Chadler deve faturar este ano no Brasil cerca de US$ 50 milhões, US$ 15 milhões a menos que em 94, segundo Joho.
A fábrica da Chadler nos EUA deve operar a partir de agosto em Bridgeport (New Jersey), com capacidade para moer 30 mil t/ano de amêndoas de cacau.
A moagem da amêndoa é o primeiro passo para fabricar subprodutos do cacau. Entre eles, a nova fábrica produzirá manteiga e pó de cacau direcionados ao mercado norte-americano.
No Brasil, a Chadler opera em Ilhéus, no sul da Bahia, com uma fábrica capaz de moer até 45 mil t/ano de amêndoa.
Mas a previsão da empresa para este ano é de moer 30 mil t, produzindo líquor (amêndoa em forma líquida), manteiga e pó.
Devido à falta de cacau, a exportação de subprodutos da Chadler para Europa e EUA deve diminuir dos US$ 25 milhões de 94 para US$ 10 milhões este ano.
Os outros US$ 40 milhões que completam a previsão de faturamento para 95 serão obtidos no Brasil e América Latina.
Nos EUA, afirma Joho, é mais fácil comprar cacau. ``Há nos portos norte-americanos cerca de 3 milhões de sacas de amêndoa".
A empresa investiu US$ 10 milhões na implantação da fábrica em Bridgeport, cidade próxima ao porto de Filadélfia.
O investimento foi financiado pelos bancos e governo dos EUA, com juros de 8% ao ano.
A indústria nacional pode voltar a importar amêndoa de cacau em agosto.
A possibilidade é admitida por Luciano Costa, presidente da Comcauba (Comissão de Comércio do Cacau do Brasil) e vice-presidente da Cargill, que fabrica subprodutos de cacau em Ilhéus.
A safra temporã de cacau, colhida entre maio e setembro, antes da principal, deve somar perto de 1 milhão de sacas.
Mas a indústria nacional precisa moer 1,2 milhão de sacas de amêndoa no período da safra temporã, diz Costa.
No ano passado, a Cargill importou 5.000 toneladas de amêndoa de cacau, alegando escassez de matéria-prima na Bahia.
``Infelizmente, a tendência é o país deixar de exportar cacau e tornar-se importador do produto", afirma Costa.

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