São Paulo, terça-feira, 13 de junho de 1995
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Preço agrícola é o menor da década

SUZANA BARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

A safra recorde de 95, uma das responsáveis pela atual queda da inflação, também está causando a diminuição da renda do agricultor.
Pela colheita de 81 milhões de toneladas de grãos este ano, os produtores estão recebendo os menores preços já pagos na década, afirma o economista Fernando Homem de Melo, da Universidade de São Paulo.
Estudo do economista mostra, por exemplo, que o agricultor recebeu em abril R$ 5,78 pela saca de 60 quilos do milho. No mesmo mês de 1990, a saca valia R$ 8,54. Em 94, foi vendida por R$ 7,39.
``A consequência é a queda de 26,2% na receita do agricultor nos primeiros quatro meses deste ano em comparação com igual período de 94", diz Homem de Melo.
Nos cálculos da Ocepar (Organização das Cooperativas do Paraná), a redução da renda nos últimos 12 meses, terminados em abril, chega a 18,87%. No mesmo período, fertilizantes, agrotóxicos e máquinas aumentaram 23,17% para os agricultores paranaenses.
``Apesar da produção recorde, a safra não trará dinheiro ao agricultor", diz Nelson Costa, economista da Ocepar.
Diversos fatores estão segurando o preço agrícola e, consequentemente, a inflação.
O primeiro deles, diz Homem de Melo, é que o governo, além de não corrigir desde agosto de 94 o preço mínimo pago aos agricultores, também não está entrando no mercado para comprar a produção.
Outro fator é que, com as atuais taxas de juros, ninguém quer ficar com o produto estocado. ``E se o agricultor quiser vender na entressafra, quando os preços são melhores, terá de arcar até lá com os custos deste estoque", afirma.
Luiz Antônio Pinazza, da Agroceres (que produz sementes), diz que a agroindústria está comprando a produção em ritmo mais lento, já que não há risco de ficar sem produtos. Desta forma, completa, a indústria também não tem de arcar com os custos de estoques.
O juro alto, diz Costa da Ocepar, faz ainda com que as empresas prefiram importar produtos, como o algodão, que tem preços mais baixos no exterior e financiamento de 180 dias.
Por último, há a defasagem cambial que favorece a importação de grãos e torna menos rentável as exportações.
``A defasagem cambial está recaindo no agricultor", diz Homem de Melo. Em abril deste ano o preço médio da saca de 60 quilos de soja, produto típico de exportação, chegou a R$ 8,99. Há um ano, o agricultor recebia R$ 12,89.
No caso do arroz a boa oferta garante preços abaixo do mínimo estipulado pelo governo. A produção nacional deve chegar a 11,4 milhões de toneladas contra as 10,5 milhões de toneladas de 94.
Há, ainda, o estoque de grãos importados ``Câmbio favorável e a redução de alíquotas, que estava em 10% no ano passado para arroz em casca, favoreceram a importação", diz Rocilda Moreira, técnica da Conab.
O resultado é que o produtor gaúcho está recebendo entre R$ 8,50 e R$ 9 pela saca de 50 quilos. O preço mínimo é de R$ 10,02.

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