São Paulo, terça-feira, 13 de junho de 1995
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Cadão Volpato dá as costas ao universo pop para ser escritor

JOSÉ GERALDO COUTO
DA REPORTAGEM LOCAL

Livro: Ronda Noturna
Autor: Cadão Volpato
Páginas: 95
Preço: R$ 15,00
Lançamento: hoje, a partir das 19h, no anexo do Espaço Banco Nacional de Cinema (rua Augusta, 1.470)

Cadão Volpato, 38, percorreu um longo e acidentado caminho até começar a ser aquilo que realmente pretende ser: um escritor.
Antes de escrever o livro de contos ``Ronda Noturna", que será lançado hoje, foi ator, letrista de rock, cantor (da banda Fellini), apresentador de TV (do programa ``Metrópolis", da Cultura), militante trotskista, jornalista.
``Sempre tive claro que essas minhas outras atividades eram uma coisa totalmente circunstancial, não eram `aquela' coisa que eu queria", diz o escritor, que edita a revista de cinema ``Set".
Cadão relativiza a influência de outras linguagens sobre a sua literatura. ``É impossível para uma geração como a nossa dizer que não sofre influência do cinema, da TV, da música. O mundo é pop, é controlado por esse tipo de linguagem. Mas o que procurei fazer foi algo que se aproximasse mais da literatura que do universo pop."
O escritor aproveita para desancar os artistas que misturam várias linguagens e meios de expressão: ``Acho esse negócio de multimídia uma grande besteira, essa coisa do artista que lança a bola e sai correndo atrás. Acho em geral muito vulgar esse tipo de iniciativa".
Há três anos, Cadão tinha entregue à Companhia das Letras um volume com outros sete contos, que a editora considerou demasiado juvenis para sua linha editorial.
``Foi melhor assim", diz. ``Tive um acesso de autocrítica, joguei tudo fora e escrevi um livro diferente, muito mais maduro."
Todas as histórias de ``Ronda Noturna" põem em cena personagens à deriva, em desajuste com o mundo circundante: uma garota solitária em guerra surda contra a madrasta, um velho militante divorciado que passeia com o filho em Barcelona, assaltantes pés-de-chinelo que se disfarçam de terroristas etc.
``Tenho simpatia pelo pobre diabo. Nossa geração se acostumou a não ter herói. A gente tinha idealismo, e o livro se debruça de maneira afetiva sobre a falha que esse idealismo tinha", diz Cadão.
O olhar afetuoso e irônico dirigido à militância de esquerda -sobretudo trotskista- dos anos 70 é uma das marcas do livro.
Sobre o caráter fragmentário e inconclusivo de suas histórias, Cadão afirma: ``Não é preciso explicar tudo ao leitor, impor a ele um sentido. É importante que ele tenha um grau de participação".
O autor prepara agora um volume composto por duas novelas: ``Duas Mulheres Apagadas".

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