São Paulo, quarta-feira, 14 de junho de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Covas vai afastar acusados de tortura

EMANUEL NERI
DA REPORTAGEM LOCAL

O governo de São Paulo vai afastar dos cargos de chefia da polícia alguns delegados acusados de tortura e de envolvimento na repressão política durante o regime militar (1964-1985).
A acusação é feita pelo grupo Tortura Nunca Mais, que divulgou lista com nomes de seis policiais. Cópia dessa relação foi enviada à Secretaria da Segurança no último dia 14 de maio.
A decisão sobre o afastamento já está tomada. O governo vai esperar remanejamento que será feito em postos policiais para afastar os delegados.
O governador Mário Covas instruiu a Secretaria de Segurança a adotar tal medida.
Entre os acusados estão o do diretor do Detran (Departamento de Trânsito), Enos Beolqui, e um de seus assessores, Eduardo Nardi. Ambos são acusados de envolvimento com o aparelho repressivo.
Os outros citados na lista são acusados de praticar tortura contra presos. Entre eles estão os delegados Ernesto Milton Dias, da Seccional de Polícia do bairro de Itaquera (zona leste), e Dirceu Gravina, de Indiana (560 km a oeste de São Paulo).
Também são citados na relação dos torturadores o delegado Davi de Araújo Santos, assistente do departamento de Polícia Judiciária, e Antonio Nogueira Lara Rezende.
Para o Tortura Nunca Mais, Rezende era policial em Minas e foi transferido para trabalhar com Beolqui no Detran de São Paulo. Um sétimo nome -o do delegado Aparecido Laerte Calandra - foi acrescido à lista.
Conhecido entre pessoas torturadas como ``Capitão Ubirajara", Calandra é o único que já foi punido pelo governo Covas.
Ele não chegou a assumir uma diretoria do Detran, para a qual havia sido indicado no início do governo.
A Folha apurou que os próximos a serem afastados são os delegados Ernesto Milton Dias e Dirceu Gravina. Ambos são citados como torturadores no livro ``Brasil Nunca Mais", coordenado pela Arquidiocese de São Paulo.
No caso de Beolqui e Nardi, o governo entende que as acusações de envolvimento com o aparelho repressivo não são suficientes para afastá-los dos cargos que ocupam. O governo desconhece a presença de Lara Rezende no Detran.
Os outros dois acusados de torturadores -Davi de Araújo Santos e Aparecido Laerte Calandra - não terão mais nenhuma promoção na polícia. Calandra está lotado atualmente no Departamento de Investigações Sociais da polícia.
Mas o Tortura Nunca Mais quer o afastamento de todos esses policiais. ``Não aceitaremos que torturadores ocupem cargos públicos importantes e que os contribuintes paguem seus salários", diz Ivan Seixas, integrante do grupo.
Amélia de Almeida Teles, da Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos, diz que nomear torturadores para cargos de confiança ``é reconhecer que há méritos na tortura".

Texto Anterior: Ruth anuncia venda de imóveis da União
Próximo Texto: Policiais não se manifestam
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.