São Paulo, domingo, 18 de junho de 1995
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Japonês ajuda a resgatar história da imigração

MARCUS FERNANDES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SANTOS

Há exatamente 87 anos desembarcavam do navio Kasato Maru, no porto de Santos, os primeiros 781 imigrantes que começariam a construir a história da relação Brasil-Japão.
O Kasato Maru, após 51 dias de viagem, atracou às 18h do dia 17 de junho de 1908, como resultado do Tratado de Comércio e Navegação assinado entre os dois países em 1895.
Por muito tempo, a cidade de Santos foi porta de entrada de muitos japoneses que tentaram a sorte no outro lado do planeta.
O imigrante japonês Arata Kami, 73, desembarcou na cidade em 1933, com 11 anos. ``Aprendi os costumes e o idioma falado no Brasil durante os 44 dias da viagem. O navio trazia 1.200 pessoas, que todos os dias estudavam o seu novo país", recorda-se Kami.
O dia-a-dia no Brasil fez com que certas informações recebidas a bordo virassem folclore. ``Ensinaram que não se poderia tirar a camisa em público, mesmo em um país tropical como o Brasil", diz.
Como milhares de outros japoneses, ele e a família se instalaram no interior para trabalhar na agricultura. Os Kami foram para Cafelândia (interior de SP).
Kami deixou a lavoura em 1956. Atraído pela indústria pesqueira, retornou a Santos (SP).
Após 62 anos no Brasil, a língua portuguesa ainda não foi totalmente assimilada por Kami. Mas ele lembra que, ao deixar o navio, ``sabia contar e fazer compras".
Outras lições ficaram marcadas, transformando o ex-pescador em presidente, há 17 anos, da Sociedade Japonesa de Santos.
Há dez anos, Kami encontrou em um cemitério de Santos os restos mortais de Sakai Mine, tradutor-intérprete dos primeiros 781 imigrantes que desembarcaram no Kasato Maru.
``Como imigrante, deveria honrar o meu país. Resolvi me dedicar a resgatar a história dos que aqui haviam chegado", diz.
Há dois anos, seu trabalho levou o governo japonês a condecorá-lo com a Ordem do Sol Nascente, considerada, segundo ele, uma das mais importantes comendas do governo do Japão.
Orgulhoso, esse filho de lavradores de Fukuoka (sul do Japão) nunca retornou ao seu país de origem. ``Hoje represento o Japão em Santos. Quando chega navio de guerra japonês no porto, sou eu que vou recepcioná-lo", diz.

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