São Paulo, domingo, 18 de junho de 1995
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Para cientista, cirurgias não vêm do além

ÁLVARO PEREIRA JÚNIOR
DO NP

``Não há truque que não possa ser feito." Usando esse aforismo, de autoria do mágico francês Jean-Eugène Robert-Houdin (1805-1871), o professor José Atílio Vanin, do Instituto de Química da USP, descarta toda possibilidade de efeitos sobrenaturais estarem envolvidos nas chamadas ``operações espirituais".
Vanin, estudioso de magia há 25 anos, acha que mesmo os fenômenos mais estranhos têm sempre, em última análise, o que ele chama de ``causas naturais" -ou seja, nada a ver com espíritos e almas de um outro mundo.
``Qualquer coisa anormal tem sempre uma explicação normal", sentencia. Vanin vê enorme paralelismo entre o ritual das ``curas espirituais" e o dos prestidigitadores. Gestos rápidos, insistência na colaboração dos espectadores, artifícios que desviam a atenção do público.
Robert-Houdin, considerado pai da moderna prestidigitação, foi de certa forma o precursor das ``operações astrais". Como os ``cirurgiões", dispensava aparatos complicados. Trabalhava com objetos do dia-a-dia. Sua base era menos a tecnologia que a criatividade.
``Isso é mágica", aponta o farmacólogo Sérgio Ferreira, professor titular da Faculdade de Medicina da USP (Ribeirão Preto) e presidente eleito da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência.
Ferreira estuda há 23 anos mecanismos da dor e não aceita que em ``operações espirituais" como as do Dito de Jacarepaguá possa haver incisões que, segundos depois, não deixam nem cicatriz.
Sobre as ``cirurgias" de João Teixeira, de Goiás, que raspa facas nos olhos de doentes e lhes enfia tesouras pelo nariz, Ferreira afirma que ``não têm nada que venha do além".
O cientista lembra que não existem inervações na porção frontal dos olhos (não há, portanto, por que a faca causar dor, desde que manejada com habilidade) e que é possível fazer uma série de perfurações que não doam pelo corpo, bastando que o ``operador" conheça as regiões onde não há células nervosas sensíveis à dor.
Para Ferreira, o clima fortemente emocional das intervenções espirituais também faz aumentar no corpo a fabricação das endorfinas, anestésicos naturais do organismo.
As endorfinas, por exemplo, fazem terríveis ferimentos de guerra não doerem, quando ainda no calor do campo de batalha.
(APJ)

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