São Paulo, domingo, 18 de junho de 1995
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As cotas da discórdia

DEMIAN FIOCCA

Mais do que uma discordância entre ministros, a imposição de cotas às importações de carros expôs um dilema real do plano de estabilização. E por traz do contencioso sobre regras gerais de comércio, o que está ocorrendo é uma disputa entre o Brasil e a Argentina para sediar os novos investimentos programados pela indústria automobilística para a região.
O dilema macroeconômico é que a estabilização foi ancorada largamente na valorização do real frente ao dólar. Reforçou-se a concorrência interna com importações mais baratas. Mas essa política gerou um déficit comercial que agora ameaça o Plano Real. Essa inconsistência é a razão dos vários recuos na política de abertura. As cotas apenas explicitaram a encruzilhada em que está o governo -independentemente de quem sejam os ministros.
A alternativa às cotas ou à elevação de tarifas seria diminuir as taxas de juros e reduzir a valorização do real frente ao dólar. Isso criaria um cenário econômico menos artificial e mais equilibrado, mas teria algum impacto inflacionário.
Do ponto de vista estratégico, as cotas podem reverter uma tendência desfavorável ao Brasil. Como a Argentina dá grandes benefícios aos exportadores, montadoras planejavam produzir lá para vender aqui. A iminência de decisões de investimento da Renault e da Toyota pode ter sido o motivo da gafe diplomática brasileira. Grandes indústrias não operam de modo anônimo, negociam com governos e fornecedores.

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