São Paulo, domingo, 18 de junho de 1995
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Um ano de real

LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS

O real vai completar seu primeiro ano de vida ainda como uma moeda forte. Eu considero que esse aniversário deveria ter sido comemorado em março, o mês da introdução da URV.
Foi a curta vida dessa moeda bastarda a primeira grande vitória do programa de estabilização. Ela permitiu uma transição suave e eficiente do período da hiperinflação para o de um regime monetário civilizado.
Em outras palavras, foi a URV, nos três meses em que conviveu com o antigo cruzeiro, que permitiu a eliminação da inflação inercial de nossa economia. Mas vamos respeitar o calendário oficial.
De junho do ano passado até agora o governo tem concentrado suas forças principalmente em duas frentes de batalha.
A primeira tem sido o controle do volume da nova moeda em circulação, agindo com eficiência nas fontes primárias de emissão monetária. Os resultados têm sido excepcionais.
Na segunda batalha, contra a cultura ou memória inflacionária, os combates mais sérios só estão começando agora.
O primeiro confronto está vindo com a necessidade de reajuste de algumas tarifas públicas, principalmente de transporte urbano e águas e esgotos. Isso vai fazer com que os índices de preços ao consumidor apresentem crescimento elevado nos próximos dois meses.
Em São Paulo a inflação medida pela Fipe vai ter um aumento, por conta desses reajustes, de 0,83% em junho e de 1,14% em julho. Nesse mês ela pode passar de 3%, voltando a lançar algumas dúvidas sobre o sucesso do combate à inflação.
Em agosto, quando o impacto desses preços desaparece, podemos esperar inflação de novo abaixo de 2% ao mês. Mas preparemos o coração para o próximo teste: a entressafra agrícola que estará começando.
Outra questão importante virá também em agosto: a ``lei salarial". Nada está mais ligado à cultura inflacionária do que o reajuste automático dos salários -ou a ``Scala Mobile", como dizem os italianos.
A morte legal do IPC-r e a edição de uma medida provisória regulando essa questão vai abrir um debate político importante e um momento definitivo para o sucesso do real em seu segundo ano de vida.

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