São Paulo, domingo, 18 de junho de 1995
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Dieese sugere reajustes de salário por inflação estimada

CRISTIANE PERINI LUCCHESI
DA REPORTAGEM LOCAL

O Dieese -órgão de assessoria econômica dos sindicatos- elaborou projeto de política salarial que ficaria em vigor durante um período de ``transição" para a livre negociação, de um ano ou mais.
A idéia é criar uma comissão com trabalhadores, empresários e governo, que faria uma estimativa da inflação futura.
Essa previsão serviria de base para os reajustes salariais nas datas-bases de cada categoria a partir de julho, quando acaba o IPC-r, índice que corrige os salários atualmente. As perdas até julho em IPC-r também seriam repostas.
Sérgio Mendonça, diretor técnico do Dieese, disse à Folha que a idéia é discutir essa proposta com as centrais sindicais e tentar tirar uma política única. ``Se isso não for possível, o Dieese não apresentará proposta sua."
O projeto de ``transição" absorve a experiência da livre negociação em países desenvolvidos.
``Os entendimentos, geralmente setoriais, nos países ricos acabam fechando acordos para dois ou três anos e sempre abarcam estimavas de inflação futura."
O Dieese, segundo Mendonça, também levou em conta a situação do Brasil hoje. ``As condições para a desindexação plena da economia brasileira ainda não estão colocadas, mas nunca estivemos tão próximos a elas", disse.
Segundo Mendonça, ao estimar a inflação futura, a política de ``transição" desse tipo seria ``favorável à estabilização".
``Se você prevê inflação pouco abaixo das expectativas do momento, pode ajudar a reduzir estimativas e a inflação de fato."
A diferença entre a inflação real e a estimada seria reposta de acordo com a decisão da comissão composta pelo governo, empresários e trabalhadores.
No entender do Dieese, há barreiras, hoje, à desindexação salarial, que deveriam ser ultrapassadas no período de ``transição".
``A Justiça do Trabalho, por exemplo, pode determinar, nos dissídios, reposição salarial por índices de inflação passados."
Segundo Mendonça, ela também desestimula a livre negociação. ``Sempre que não há acordo, a Justiça é acionada. As partes acabam se acomodando."
No período de ``transição" também deveriam ser ampliados os desestímulos às demissões, entre outras mudanças, sugere.
Mínimo
O Dieese propõe ainda que o salário mínimo tenha uma política garantida de reposição de perdas, que poderia ser a escala móvel de salários adotada na Itália até meados da década de 80.
A escala móvel italiana utilizava a cesta básica como uma espécie de indexador. Toda a vez que seu valor subia, o aumento nominal era repassado aos salários. ``Nessa cesta básica tinha até vinho", conta Mendonça.
Um exemplo: se em julho a cesta básica escolhida ficasse R$ 20 mais cara, o mínimo subiria de R$ 100 para R$ 120.
O Dieese considera ainda que seria necessário aumentos reais para elevar o poder de compra do menor salário do país.
Dificuldades
Mendonça pretende procurar as centrais sindicais amanhã mesmo para detalhar a proposta do Dieese mas sabe que o momento não favorece ações conciliadoras.
As divergências sobre o monopólio do petróleo e das telecomunicações e a greve dos petroleiros afastaram Força Sindical e CUT.
Também o governo não parece disposto discutir a ``transição" para a livre negociação salarial. Quer implantá-la já.

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