São Paulo, domingo, 18 de junho de 1995
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A poluição do carro elétrico

PAULO FERNANDO SILVESTRE JR.
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma pesquisa realizada no Departamento de Engenharia Civil e Ambiental da Universidade Carnegie Mellon, em Pittsburgh (EUA), apresentou conclusões que podem jogar por terra a aura de não-poluente dos carros elétricos.
Segundo o estudo, que foi publicado recentemente na revista científica "Science", os modelos elétricos são tão poluentes quanto as versões equivalentes tradicionais, impulsionados pelos motores a combustão.
"Nós acreditamos que o chumbo liberado no ambiente pelos carros elétricos pode causar problemas de saúde pública mais significativos do que os poluentes emitidos por veículos convencionais", disse à Folha Chris Hendrickson, membro da equipe responsável pelo estudo.
O chumbo a que se refere é o das baterias usadas para alimentar o motor elétrico do carro. Tais baterias contêm um ácido baseado no elemento químico, que pode contaminar o meio ambiente durante processo de produção e reciclagem das baterias.
Segundo Hendrickson, um modelo elétrico de 1988 libera 60 vezes mais chumbo por quilômetro rodado do que um veículo convencional queimando gasolina que contém o mesmo chumbo.
A preocupação com a emissão de chumbo por automóveis não é nova e nem foi motivada originalmente pelos carros elétricos. "Progressos consideráveis foram feitos nessa área desde o pico de uso de chumbo, ocorrido em 1972", diz Hendrickson.
"Nossas agências de proteção ambiental vêm tentando controlar as emissões de chumbo na produção e reciclagem há 25 anos. Temos uma política nacional de redução do uso de chumbo, através de sua substituição", diz.
O estudo afirma que, mesmo com as atuais taxas de reciclagem de baterias (estimadas em 94%), a implementação de leis que exigem um porcentagem mínima de carros elétricos nas ruas (leia texto abaixo) implicaria um aumento na poluição por chumbo que excederia a redução de suas emissões já conseguida através de gasolinas de melhor qualidade nos últimos anos.
"Novas baterias podem causar menos impacto no ambiente que as baseadas em chumbo. Nós sugeriríamos, entretanto, uma constante observação durante todo o tempo de vida dessas novas baterias antes de aprová-las", diz Hendrickson.
Ele acrescenta que "um fator importante, nos estudos sobre impactos ambientais de veículos elétricos, é que esses veículos exigem geração de eletricidade e essa geração tem suas próprias emissões de poluentes".
"Portanto, uma comparação direta entre veículos elétricos e a poluição produzida por veículos convencionais não mostra a realidade", conclui.
Em um país como os Estados Unidos, com a maior frota automobilística do mundo e onde a geração de eletricidade depende majoritariamente de usinas nucleares e térmicas (a carvão), a poluição que elas produziriam apenas para alimentar as baterias não pode ser desprezada.
Estudos independentes mostram que, se por um lado os carros elétricos diminuem a emissão de poluentes baseados em carbono, como o monóxido de carbono e hidrocarbonetos (emitido por motores alimentados por combustíveis fósseis), por outro aumentam a poluição por dióxido de carbono, óxidos nítricos e sulfúricos.

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