São Paulo, domingo, 18 de junho de 1995
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Rebeldes tchetchenos libertam 160 reféns

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

Tropas russas lançaram na tarde de ontem um segundo ataque contra o hospital de Budennovsk, no sul da Rússia, onde entre 60 e 200 guerrilheiros separatistas tchetchenos estão entrincheirados com cerca de mil reféns.
A ação russa foi iniciada por volta das 5h de ontem (22h de anteontem em Brasília), com metralhadoras pesadas e canhões.
Após três horas de combates, os russos concordaram com um cessar-fogo. Na tarde de ontem (manhã no Brasil), os russos iniciaram um segundo ataque, que foi interrompido 20 minutos depois para mais negociações.
Os guerrilheiros querem o fim da campanha militar russa na Tchetchênia, república que declarou independência em relação à Rússia em 1991 e foi invadida em dezembro passado.
O governo russo não diz qual é sua posição em relação à exigência dos tchetchenos.
O presidente russo, Boris Ieltsin, está no Canadá para a cúpula dos sete países mais industrializados do mundo. Ele disse ter coordenado a invasão com o ministro do Interior, Viktor Ierin, antes de deixar Moscou.
"A decisão foi tomada antes de eu viajar, com todos os ministros envolvidos." Horas antes, no entanto, autoridades em Moscou haviam dito que a primeira ação foi lançada sem ordens superiores.
"Eles reagiram emocionalmente aos gritos dos reféns e ao som de tiros dentro do prédio. Na hora da ação, não havia plano de ataque", disse Valeri Grishin, um porta-voz do governo russo.
O número de mortos entre guerrilheiros, reféns e soldados russos é desconhecido. Ieltsin afirmou que cinco soldados russos morreram no ataque contra o hospital.
Segundo o governo russo, guerrilheiros tchetchenos tentaram escapar do hospital disfarçados de médicos, mas foram mortos.
Agitando pedaços de pano branco, os reféns pediram que os russos interrompessem o ataque. Os moradores de Budennovsk querem a mediação do premiê Viktor Tchernomirdin.
Os tchetchenos atacaram Budennovsk, cidade com cerca de 100 mil habitantes, na quarta-feira passada. O número de mortos desde o ataque dos rebeldes já supera 130 pessoas, incluindo civis, soldados russos e tchetchenos.
"Todos os reféns feridos esta manhã foram atingidos por fogo russo", disse a médica Vera Chepurina, que saiu do hospital para falar com os russos."Precisamos parar com isso."
"Os tchetchenos forçam as pessoas a ficarem às janelas, enquanto os russos disparam", disse Iuri Klujkov, um refém libertado.
"(Minha filha) foi atingida por disparos nossos, mas graças a Deus está viva", disse Valia Gueikina, mãe de uma refém de 18 anos, grávida que foi libertada pelos tchetchenos.
Analistas dizem que Boris Ieltsin esperava capitalizar com a crise, um ato terrorista tchetcheno em solo russo.
A repressão à independência tchetchena -cuja liderança nega envolvimento com a tomada de reféns em Budennovsk- é criticada pelo Ocidente (leia texto abaixo).

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