São Paulo, domingo, 18 de junho de 1995 |
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Cansado de viver com dinheiro contado, Luís Melo fará novela
ARMANDO ANTENORE
Mesmo assim, aceitou protagonizar pela primeira vez uma novela. Vai viver o professor Rubinho em ``Cara & Coroa", que a Globo lança no dia 24 de julho, às 19h. Enumerar as engenhocas que o ator tem em casa se faz mais necessário do que parece. Desde 1985, Melo trabalha com o consagrado diretor teatral Antunes Filho, que não gostou nada de ver o discípulo ``arrastar as asas" para a TV. ``Sabe o que o Luís está querendo?", esbraveja o mestre. ``Fama, dinheiro. Ele sonha em distribuir autógrafos, comer de graça nos restaurantes da moda e comprar uns eletrodomésticos." ``E-le-tro-do-més-ti-cos", repete, saboreando as sílabas e dando a deixa para a profecia mordaz: ``A televisão vai sugar o Luís. É como um espremedor de laranjas -suga e joga o bagaço fora." ``Ah, o Antunes... Ele não sabe quanto custa uma feira, um supermercado?", rebate o ator. ``Se o teatro me desse segurança, se me pagasse um salário fixo por mês, as coisas mudariam de figura. Talvez pudesse recusar a proposta da Globo. Fazer novela é dispensável para meu amadurecimento profissional. Só que cansei de viver com o dinheiro contado." Resistir, até que resistiu bastante. Em 16 anos de carreira, o paranaense Luís Melo trabalhou pouquíssimas vezes na televisão. Rejeitou convites para a novela ``Renascer" (1993) e as minisséries ``Riacho Doce" (1990) e ``Memorial de Maria Moura" (1994), as três produzidas pela Globo. Participou apenas de programas educativos, como o ``Telecurso 2º Grau" e o infantil ``Catavento", que a Cultura exibiu durante a década de 80. Nos palcos, em compensação, fez de tudo -peças para crianças e adolescentes, espetáculos de rua, clássicos da dramaturgia universal. Sob o comando de Antunes Filho, encabeçou o elenco de ``Paraíso Zona Norte", ``Nova Velha História", ``Trono de Sangue" e ``Vereda da Salvação". Está, agora, no Sesc Anchieta, em São Paulo, com o épico ``Gilgamesh", do mesmo diretor. Sem carro Reverenciado pela crítica, Luís Melo já ganhou os mais importantes prêmios teatrais do país: Mambembe, Shell e Molière. Continua, porém, morando de aluguel em um apartamento de dois quartos no bairro paulistano da Bela Vista. Não tem carro (``só ando de ônibus") nem usa cartão de crédito (``evito prestações porque nunca sei como estará minha conta bancária quando o mês acabar"). Solteiro, lava as próprias roupas e cozinha quase diariamente. ``Gostaria de passar alguns fins-de-semana na praia ou no campo, em um lugar mais tranquilo, para esfriar a cabeça. Como a grana é curta, me contento com o parque do Ibirapuera." Texto Anterior: Saem livros da coleção Castelo Rá-Tim-Bum Próximo Texto: Sonho do ator é envelhecer no palco Índice |
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