São Paulo, segunda-feira, 19 de junho de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Crítica elogia tradução de `Os Sertões'

MARILENE FELINTO

Em Berlim
A edição alemã de ``Os Sertões" -``Krieg im Sertão" (Guerra no Sertão)-, de Euclides da Cunha, traduzida por Berthold Zilly e publicada pela editora Suhrkamp em 1994, é o maior sucesso de crítica já alcançado por um livro brasileiro na Alemanha.
Em janeiro último, ``Os Sertões" aparecia em terceiro lugar na lista dos melhores livros do ano passado, escolhidos pelos 30 mais importantes críticos da Alemanha.
Iniciativa da rádio Sudwestfunk, a lista só trazia antes de Cunha o alemão Peter Handke (segundo lugar) e do português António Lobo Antunes (primeiro).
Jornais alemães de direita e de esquerda deram resenhas de página inteira para o clássico brasileiro. Qual será o elo entre o sertão e a floresta negra?
A resenha do ``Frankfurter Algemeiner Zeitung" (FAZ), o maior e mais conservador jornal alemão, começa se referindo à história de vida trágica do autor.
``Euclides da Cunha é uma das figuras mais importantes e, ao mesmo tempo, irregulares da história cultural brasileira", diz o crítico Hanspeter Brode, ``não somente pelo absurdo de sua morte trágica: no ano de 1909, o escritor de 43 anos foi fuzilado num subúrbio do Rio de Janeiro pela pistola com que o perseguia sua amante."
O ``FAZ" ressalta a complexidade do texto ensaístico-literário do livro e analisa detalhadamente os aspectos científicos das teses do autor sobre o sertanejo enquanto produto da terra, do clima, da raça, da história e da religião.
O jornal ``Die Zeit" se refere ao ``épico" de Cunha com as seguinte palavras, em destaque: ``Uma visão sombria. Um poema! Um grandioso documento sobre o homem e a história do Brasil".
A resenha é assinada por Dieter Zimmer, crítico alemão já aposentado, mas que parece não ter resistido a opinar sobre a guerra no sertão. Zimmer faz comparações entre o livro de Cunha e ``A Guerra do Fim do Mundo", de Vargas Llosa, inspirado nos mesmos Canudos e Antonio Conselheiro.
O crítico alemão é explícito em suas restrições ao livro de Vargas Llosa, que acha fraco e ``quando muito, correto" se comparado com ``Os Sertões".
Surpreso com o sucesso do livro que traduziu, Berthold Zilly tem sido convidado para conferências e leituras pela Alemanha e Europa.
O próximo evento a envolver ``Os Sertões" acontecerá em Berlim no dia dia 02 de julho. É um simpósio promovido pela Haus der Kulturen der Welt (Casa das Culturas do Mundo) especialmente para discutir o livro de Cunha.
Participarão dos debates, entre outros, Zilly, Sérgio Paulo Rouanet, Walnice Nogueira Galvão e Francisco Foot Hardman. (MF)

Texto Anterior: Berlim cria cátedra de literatura brasileira
Próximo Texto: Evento esquece o cinema brasileiro
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.