São Paulo, quarta-feira, 21 de junho de 1995
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Arrecadação sobe e a economia cai

LUÍS NASSIF

O desempenho da arrecadação fiscal neste mês não pode ser usado como termômetro de tendência da economia, por várias razões:
1) Em relação ao mesmo período do ano passado, o pagamento do Imposto de Renda Pessoa Jurídica subiu por duas razões. Primeiro, por refletir o bom desempenho da economia no ano passado (paga-se em 1995 o IR correspondente aos lucros de 1994), e não dos últimos 15 ou 30 dias. Depois, porque no ano passado podia-se descontar do lucro os prejuízos acumulados em balanços anteriores, que haviam sido pesadamente negativos. Este ano, as deduções foram limitadas a 30% do lucro.
2) Parte relevante do Imposto sobre Produtos Industrializados é pago com defasagem de 30 dias sobre o fato gerador (a venda). Portanto a arrecadação de hoje reflete o aumento sazonal das vendas com o dia das mães no mês passado. A parte do IPI que é apurada quase instantaneamente é sobre cigarros, bebidas e produtos importados, cujas vendas não são afetadas de imediato por restrições de crédito.
3) A base de comparação com o ano passado é irreal. No mesmo período de 1994 tinha-se uma economia altamente inflacionária, com os negócios completamente parados, em função da expectativa de mudança da moeda.
4) O fato do nível de vendas ou de arrecadação estar superior ao do ano passado não significa que a situação esteja melhor. O aquecimento da economia aumentou o grau de endividamento. Ao cortar o crédito adicional, e aumentar extraordinariamente o custo da rolagem das dívidas antigas, o governo inviabilizou grande parte das empresas, independentemente do seu nível de vendas --conforme o depoimento patético dos empresários de Lençóis Paulistas, cuja carta foi publicada ontem pela coluna.
Se não, como explicar que, com essa abundância anunciada, tenham-se os maiores índices de cheques sem fundo, inadimplência, concordatas e falências dos últimos dez anos? Como é possível que recordes dessa natureza reflitam uma economia ``levemente desaquecida``? Tal hipótese só pode partir de chapas-brancas ``ligeiramente grávidas`` pelo promiscuidade reiterada com o poder.`Para agradar o rei, sujeitam-se a qualquer coisa, inclusive a zombar diariamente do drama que acomete milhões de pequenos consumidores e de pequenas empresas por todo o país.

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