São Paulo, quarta-feira, 21 de junho de 1995
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Grêmio joga como os uruguaios jogavam

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Soube que os gaúchos ficaram irritados com o que escrevi aqui logo após o primeiro jogo decisivo da Copa do Brasil, quando o Grêmio perdeu no Pacaembu para o Corinthians, por 2 a 1.
E o que escrevi, afinal? Simplesmente que esse Grêmio, neste instante de reencontro do nosso futebol com suas mais caras tradições, é um retrocesso. O Grêmio joga como seus vizinhos uruguaios o faziam, nos bons tempos, sobretudo quando veste o seu segundo uniforme, um fac-símile da gloriosa Celeste Olímpica: marca duro, às vezes com certa dose de violência, e só investe em contragolpes, seja por intermédio da velocidade de Paulo Nunes, seja em centros alçados à área para o cabeceio do gigante Jardel.
Ah, sim, temos também os chutes poderosos de Dinho de fora da área, principalmente em bolas paradas. Assim, trata-se de uma equipe compacta, consciente e eficaz.
Mas e as individualidades, a inventividade, o floreio, as nuances, que são traços característicos da escola brasileira que Zagallo busca recuperar na seleção?
Há, sem dúvida, um toque de classe em Carlos Miguel, assim como muito talento em Roger, o lateral que foi esquecido por Zagallo injustamente. Mas, convenhamos, é pouco para um time que, vindo a ser campeão da Copa do Brasil, sirva de parâmetro para o nosso futebol.
Longe de mim, que fui dos primeiros a pugnar pela incorporação do espírito de multiplicidade ao nosso craque de função única dos anos 60/70, sugerir a volta aos tempos românticos do jogar-e-deixar-jogar. Tanto que a gauchada irada de hoje louvava meus escritos de 20 anos atrás, quando eu profetizava a vitória do Inter de Falcão sobre o Fluminense de Rivelino. Pois Falcão e Rivelino simbolizavam dois tempos que se separavam.
Ambos tinham classe, técnica e estilo. Só que Falcão, ao contrário de Rivelino, multiplicava-se em campo nas funções de marcar e armar as jogadas de seu time.
Claro que se pode argumentar com Caçapava. Mas replico com Carpeggiani, Escurinho e cia.
Infelizmente, no atual Grêmio não há nem sequer vestígios de Falcão, muito menos de Rivelino. Mas sobram Caçapavas. O que, afinal, continua não sendo nenhuma ofensa. É apenas uma maneira de ver o futebol e, por que não, a vida.

Tudo isso não quer dizer que o Corinthians já é campeão. O jogo se decide nesta noite, no Olímpico, e, exatamente por tudo isso, o Grêmio é o favorito.
O clima que se criou é de verdadeira guerra, e ao Grêmio basta vencer por 1 a 0. Apesar disso, é bom levar em conta que o Corinthians tem uma dupla de meio-campo que resiste bem ao jogo duro, quando não exagera também, formada por Bernardo e Zé Elias. Bernardo está cumprindo uma temporada impecável. E certamente será incumbido, por força da altura, de impedir os cabeceios de Jardel.
Por fim, possui um sistema de armação (Souza e Marcelinho) e de ataque (Viola e Fabinho ou Marques) capaz de reverter em pleno Olímpico essa situação. É esperar para ver.

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