São Paulo, quarta-feira, 21 de junho de 1995
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Soft poderá antecipar necessidades do usuário

BILL GATES
ESPECIAL PARA A FOLHA

Algumas semanas atrás, pedi a vocês que me escrevessem dizendo quais são seus sonhos para futuros programas. A maioria das idéias que vocês me transmitiram é bastante viável.
Pergunta - Quero ter acesso a vídeo com movimento total com a mesma facilidade com que aciono documentos no World Wide Web.
Poderíamos fazer vídeos de nós mesmos, nossas famílias, nossos bichos de estimação ou coisas que nos interessassem e fazer com que estivessem disponíveis para pessoas no planeta todo. Empresas poderiam distribuir fotos, sons, vídeos -qualquer coisa- com o apertar de um botão. (John S. Kennedy, axinar TSO.Cin.IX.net)
Resposta - Companhias de TV a cabo e de telefone, por exemplo, querem colocar tudo isso à nossa disposição. É possível que as primeiras que consigam fazê-lo -nos EUA, pelo menos- sejam as companhias de TV a cabo, que pretendem oferecer conexões em alta largura de banda com a Internet e serviços comerciais on line.
As conexões de telecomunicações com redes que temos hoje normalmente não oferecem suficiente largura de banda (capacidade de transporte de informações) para permitir vídeo de boa qualidade.
Quando esse problema tiver sido contornado, qualquer pessoa que tenha uma câmera de vídeo vai poder contar com um meio barato de distribuir imagens para qualquer outra pessoa que estiver interessada em assisti-las.
Pergunta - Quando eu fazia faculdade em Manhattan, costumava caminhar pela Fifth Avenue ou pela Park Avenue e imaginar que vivia em um daqueles apartamentos de cobertura com vista para o Central Park ou a ponte Queensboro. Por que não oferecer vistas maravilhosas para quem tiver TV de tela grande e alta definição? Dirigir câmeras de TV para algumas das vistas mais bonitas do mundo -a torre Eiffel, em Paris, ou a linha do horizonte de Nova York- e transmiti-las pela televisão, 24 horas por dia? (Lucille van Ommering, Gold River, EUA)
Resposta - Em algumas cidades, o público já tem acesso limitado a imagens ao vivo transmitidas por câmeras de televisão.
Na minha cidade natal, por exemplo -Seattle, Washington-, os canais de televisão locais costumam mostrar o trânsito do horário do rush filmado por câmeras de televisão montadas acima das principais avenidas.
Algumas emissoras também transmitem fotos ao vivo do clima atual, desde câmeras montadas sobre torres e edifícios altos.
É claro que todos nós estamos acostumados a ver imagens televisionadas do clima desde o ponto de observação mais alto de todos: um satélite. Essas não são imagens ao vivo, mas chegam com apenas algumas horas de atraso.
Também há imagens ao vivo de vários tipos disponíveis na World Wide Web, da Internet. Por exemplo, há um menu de mapas climatológicos transmitidos por satélite disponível no endereço http://www.atmos.uiuc.edu/wxworld/html/eatimg. htlm.
Uma foto em vídeo de um bule de café na Universidade Cambridge, na Inglaterra, é atualizada de segundo em segundo (o endereço é http://www.cl.cam.ac.uk/coffee.html). Pode não ter sentido, mas se você quiser saber se o bule está cheio, dê uma olhada.
Para quem quer uma vista bonita, um panorama é tirado a cada 15 minutos por uma câmera montada no campus da Universidade de Washington, disponível no seguinte endereço: http://www.cac.washington.edu:1180. Se você quiser saber se está chovendo em Seattle ou não, dê uma olhadinha.
A transmissão de imagens em vídeo ao vivo de lugares famosos para residências e escritórios é uma idéia que está sendo amplamente discutida. Eu prevejo que terei essa possibilidade em minha própria casa. Quero poder assistir panoramas ao vivo, além de imagens paradas de ótima qualidade.
Pergunta - Anseio pelo dia em que possa fazer meu computador ir atrás de informações que me interessam. Quero que o computador aprenda o tipo de coisas pelas quais me interesso e as coisas que faço normalmente.
É trabalhoso ter que procurar manualmente em pilhas de documentos para encontrar o que procuro. Quero que os computadores trabalhem para mim e não que eu trabalhe para eles. (Bob Lynch, HDT143 aol.com)
Resposta - Você quer o que eu chamo de ``softer software" (software mais ameno). Você quer programas que assumam o papel de um assistente que aprenda coisas sobre você e consigam antecipar suas necessidades.
Esse tipo de programa é o Santo Graal que venho procurando há mais de uma década e devo dizer que a busca vem tomando mais tempo do que eu imaginava. Mas o que você quer, em breve, será produzido. Aposto minha empresa nisso -na verdade, já apostei.
Pergunta - Eu antecipo com prazer o dia em que meu PC possa se comunicar comigo não pelo teclado ou mouse, mas sem quaisquer ferramentas externas.
Se o PC tivesse olhos e ouvidos -e por que não os outros sentidos também?- poderíamos nos comunicar mais facilmente. Eu gostaria de poder perguntar ao computador ``como está o sabor das uvas no supermercado hoje? Estão boas para comprar?"; ou ``quanto dinheiro tenho em minha conta corrente?" (Toros Babikian, toros Planmatics.COM)
Resposta - O sonho de Babikian não é muito diferente daquele de Simon Middlehurst, um jovem arquiteto que trabalha em Londres.
``Meus principais anseios seriam poder conversar com meu computador, como o computador `Hal 9.000' no filme `2001, uma Odisséia no Espaço', e poder ligar o computador à minha mente para produzir as imagens dos edifícios", escreveu Middlehurst.
Computadores de mesa equipados com microfones e software apropriado já conseguem reconhecer e responder a comandos curtos.
Dentro de alguns anos, você poderá conversar com seu computador com bastante naturalidade. Essa capacidade será uma característica especialmente importante de poderosos computadores de tamanho adequado para serem segurados na mão, pequenos demais para usar teclados ou artefatos embutidos convencionais.
Vai levar muito mais tempo até que possamos ligar computadores diretamente a nossos sistemas nervosos centrais, para que as imagens de nossas mentes sejam expressas diretamente na tela.
A ficção científica ciberpunk se diverte com essa idéia e há razões otimistas para acreditar que isso vai acontecer algum dia.
Quando se trata de tecnologia, sou otimista total, mas nem mesmo eu sou capaz de prever que poderemos conectar nossas mentes diretamente a computadores no futuro previsível.

Cartas para Bill Gates, datilografadas em inglês, devem ser enviadas à Folha, caderno Informática -al. Barão de Limeira, 425, 4º andar, CEP 01202-900, São Paulo, SP- ou pelo fax (011) 223-1644. A correspondência pode ser enviada a Bill Gates no endereço eletrônico askbill microsoft.com. Tradução de Clara Allain

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