São Paulo, quarta-feira, 21 de junho de 1995
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Tarifaço

Cada Estado diz ter uma justificativa, os municípios dão diferentes explicações, vários setores mostram seus supostos motivos. Mas o fato é que neste mês está havendo uma elevação geral das tarifas públicas. Anteontem, com a majoração no preço do gás de cozinha, a União fez o primeiro aumento de tarifas e preços sob seu controle direto.
As várias esferas de governo tornam mais caros os serviços e produtos consumidos pela população, mas não mostram real empenho em tornar mais produtivas as estatais e as concessionárias de serviços públicos. Tampouco há transparência quanto à razão dos aumentos ou a definição dos percentuais.
Às vésperas da pretendida -e necessária- desindexação da economia, o governo está fazendo uma espécie de remarcação geral. É o conhecido tarifaço. Todos negam que esteja em ação a velha cultura inflacionária, a prática de elevar preços com base na inflação passada. Mas parece excessiva coincidência que a média dos aumentos seja tão próxima do IPC-r acumulado desde julho do ano passado.
Ainda estão nebulosas as razões dos recentes aumentos do gás ou das tarifas de ônibus da cidade de São Paulo, por exemplo. Grande parte do gás consumido no país é importado e seu preço internacional não variou significativamente. A taxa de câmbio também continua estável. O próprio secretário de Acompanhamento Econômico, José Milton Dallari, admitiu que o principal motivo de o gás ter ficado mais caro foi a pressão das empresas privadas que fazem a distribuição, a revenda e o transporte.
O fato de que o óleo diesel está hoje ainda um pouco mais barato do que em julho de 94 parece também não ter importância: as passagens de ônibus em São Paulo subiram 30%. A inflação foi de 32,8%. A justificativa está na planilha de custos feita pelas empresas e apresentada ao governo federal pelo prefeito Paulo Maluf. Lá, os combustíveis constam só como 8% dos custos. Parece pouco para empresas cuja atividade é manter ônibus rodando pela cidade o dia inteiro.
De modo geral, mesmo que vários custos tenham subido, e isso é algo que ainda está por ser demonstrado, a União, Estados e municípios ainda devem ao país uma explicação sobre o que foi feito para melhorar a eficiência das concessionárias e estatais. A população não pode continuar pagando pelas distorções abrigadas no repasse automático da inflação aos preços.

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