São Paulo, quarta-feira, 21 de junho de 1995
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Ao trabalho, PC

O empresário Paulo César Farias procurou revestir de símbolos o seu primeiro dia de liberdade. Posou sério para os fotógrafos, foi à igreja matriz rezar em memória de sua mulher morta enquanto ele esteve preso, retornou ao quartel onde passa as noites antes do horário estipulado. Para além da imagem que procurou passar de alguém cioso de seus erros e de suas novas obrigações junto à Justiça, PC é por si só emblemático para o país.
Apesar de ter sido o único membro de destaque do Collorgate que foi preso -em quem a população depositou toda a sua ira contra os esquemas corruptos-, a soltura do empresário alagoano é um exemplo importante para o Judiciário.
Com a superlotação, os presídios tornaram-se barris de pólvora em que rebeliões se sucedem umas às outras. Como se sabe, são verdadeiras universidades do crime, onde os presos, longe de se reabilitarem, apenas se especializam na prática de delitos.
Ante a situação caótica do sistema penitenciário, que aliás representa um custo alto para os cofres públicos, parece urgente a concessão de regime semi-aberto àqueles que não oferecerem risco físico à sociedade. De preferência com a obrigatoriedade de prestação de serviços à comunidade.
Certamente haverá quem critique a decisão da Justiça de liberar PC durante o dia, alegando que muitos presos por crimes comuns, desconhecidos, não conseguem fazer valer esse direito. Mas são justamente os casos de repercussão que trazem à tona problemas que afetam inúmeros anônimos. E que, muitas vezes, acabam por beneficiá-los.
Compete à sociedade cobrar que PC efetivamente cumpra o que foi determinado pela Justiça, e que o regime de semiliberdade com trabalhos gratuitos para a sociedade seja concedido a todos em condições de dele desfrutarem.

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