São Paulo, quinta-feira, 22 de junho de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Rebelião termina com seis mortes

ROBERTO CARDINALLI; SARA SILVA; LUCIANA CAMARGO; ROGER MODKOVSKI; MARCELO GODOY
DA FOLHA SUDESTE

Seis pessoas morreram e pelo menos sete ficaram feridas após a invasão, pela Polícia Militar, da Casa de Detenção de Hortolândia (120 km a noroeste de SP).
A invasão, determinada às 9h40 pelo secretário estadual de Justiça e Administração Penitenciária, Belisário dos Santos Júnior, 47, para encerrar um motim de presos.
Os detentos se rebelaram às 10h30 de anteontem, após tentativa de fuga, e fizeram 22 reféns. O motim, encerrado às 12h10 de ontem, durou 25 horas e 40 minutos.
O agente penitenciário Aluízio Francisco de Mello foi morto anteontem, no início do motim. Foi a primeira vez desde 87 que guardas morreram em presídios de São Paulo durante rebeliões.
Ontem, foram mortos o agente penitenciário Luiz Cláudio Giovanni e o diretor de Disciplina e Segurança do presídio, Sebastião Martins Silveira. Os presos José de Arimatéia Vieira, José Bezerra da Silva e Camilo Gonzaga Pereira, apontados como líderes do movimento, morreram em confronto com policiais, segundo a PM.
Foi o conflito com maior número de mortes no sistema penitenciário no Estado desde outubro de 92, quando policiais militares massacraram 111 presos na Casa de Detenção de São Paulo.
A invasão foi ordenada após tentativa frustrada de acordo com os presos, que pediam uma camionete, metralhadoras, fuzis, telefones celulares e coletes à prova de bala para libertar os reféns.
``Não tínhamos condições de ceder. O presídio tinha que ser recuperado. Seria mais difícil uma ação em caso de os fugitivos saírem, levando os reféns", disse o secretário Santos Junior.
Segundo ele, no último contato com os presos, por volta das 7h, houve ameaça de morte de reféns, a partir das 10h, caso a secretaria não atendesse as reivindicações.
``Eles prometeram matar um refém a cada 15 minutos. Apresentaram uma lista, na qual Luiz Cláudio Giovanni aparecia em primeiro lugar. Não tínhamos mais escolha", afirmou Santos Junior.
Os presos estariam tentando ganhar tempo nas negociações para tentar uma fuga em massa por um túnel. Eles chegaram a cavar um buraco de 12 metros, do qual tiraram o equivalente a quatro caminhões carregados de terra.
Durante as duas horas e trinta minutos que durou a operação policial, o clima foi tenso do lado de fora do presídio. Familiares de presos e reféns, além de agentes penitenciários, gritavam para que a polícia recuasse.
``Assassinos, vão matar meu marido", dizia aos gritos Sueli Cristina de Oliveira, que passou a noite com a filha de um mês em frente à Casa de Detenção.
Ela é casada com José Humberto Leite Lopes, sobrevivente do massacre de 111 presos em São Paulo. No início da invasão, ela subiu na cerca de arame farpado que circunda o presídio. ``Outra matança não", afirmava.
Repercussão
O vice-presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB-SP, Jairo Fonseca, disse que a invasão do presídio só se justificaria caso os presos tentassem matar algum refém na manhã de ontem.
O presidente do Conselho Estadual de Defesa da Pessoa Humana, João Benedito de Azevedo Marques, disse que não havia alternativa à invasão. ``Era necessário restabelecer a ordem na prisão e salvar os reféns."

* Colaboraram LUCIANA CAMARGO, da Folha Sudeste, ROGER MODKOVSKI, enviado especial a Hortolândia, e MARCELO GODOY, da Reportagem Local.

LEIA MAIS
Sobre a rebelião em Hortolândia à pág. 3.

Texto Anterior: Primeira-dama vai a comemoração em SP; Tribunal de Contas questiona rodovia de SP; Americanos são assaltados em Brasília; Unicamp libera 2 bebês após surto de infecção; Senado vota visto de 5 anos para estrangeiro
Próximo Texto: Secretário assume decisão
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.