São Paulo, sábado, 24 de junho de 1995
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Grupo de 4 amigos pegou Aids

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

O vendedor P.A.S., 37, acha que não teria pego Aids se tivesse uma seringa nova nas noites em que se ``picou" com amigos.
``Você pega a seringa do outro porque não tem escolha", diz. ``Esse negócio de dizer que a pessoa perde a cabeça não é bem assim."
P.A.S. usa cocaína injetável há quase 13 anos e há quatro vem tentando tratamentos. Em 1990, descobriu que estava com o HIV.
``Nós éramos um grupo de quatro que se reunia sempre, tomava todos os dias. Os quatro estão contaminados."
No início, o medo era da hepatite. Depois veio a Aids.
``A gente não tinha dificuldades para comprar seringa. Era emtrar numa farmácia 24 horas e pedir. Hoje algumas redes não vendem mais. Aí, quando você está na roda e sua agulha entope, não tem mais onde recorrer. Pega a do colega", conta.
P.A.S. e os amigos que participavam da roda são todos de classe média alta. ``Cada um tinha a sua seringa e ia lavando a cada vez. O problema surgia quando o sangue coagulava e entupia a agulha. No submundo é diferente. O grupo faz uma vaquinha, compra um papelote e faz uma dose só numa seringa 3 ml. Aí vai rodando de braço em braço."
P.A.S. diz que alguns dependentes se picam até 30 vezes numa noite, mas que quatro seringas seriam suficientes.
``Um programa que informasse e distribuísse seringas poderia salvar muita gente", afirma.
R.S.B., 25, usa droga injetável há oito anos e acha que os programas de troca de seringa não vão funcionar. ``Nunca vou entrar num posto desses", afirma.
``A polícia vai ficar de fora filmando quem chega. Depois vai dar uma prensa para forçar a gente a entregar os fornecedores."
Segundo R.S.B. -que é filho de comerciante-, quem tem dinheiro para comprar cocaína pode comprar seringa.
(AB)

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