São Paulo, sábado, 24 de junho de 1995 |
Texto Anterior |
Próximo Texto |
Índice
Posto distribui 40 mil seringas por mês
AURELIANO BIANCARELLI
Hoje, Shanda, aos 21 anos, é voluntária e ``cliente" do Harm Reduction Central, um posto de troca de seringas em Hollywood (Califórnia, EUA). O centro, que fica no bulevar Cahvenga, distribui 40 mil seringas por mês. Pelo bairro, circulam mais de 10 mil jovens que vivem nas ruas ou ocupam casas abandonadas. Cerca de 60% usam ou usaram drogas injetáveis; 10% têm Aids. O posto de Hollywood tem uma sala acolhedora e está sendo ampliado para abrigar um posto médico e áreas de lazer. Shanda registra as iniciais dos jovens que chegam com seringas para trocar. Ingrid R., 18, fugiu de casa aos 12 anos depois de sofrer abuso sexual do pai. Na semana passada, ela trouxe 16 seringas usadas e levou 25 novas. ``Estou levando também para os amigos", disse. Ganhou um kit com água sanitária, álcool e algodão para limpar as agulhas. Além de torniquete para facilitar a aplicação, camisinhas e um sanduíche. Diferente do Brasil, onde injeta-se cocaína, as drogas mais injetadas nos EUA são anfetamina e heroína. Na Califórnia, como em muitos Estados americanos, a troca de seringas é proibida por lei. Os postos que funcionam em cerca de 60 cidades americanas são muitas vezes fechados pela polícia e reabertos em seguida pela Justiça. O casal Matthew Francis e Renée Edgington, dois artistas plásticos que dirigem o posto de Hollywood, já foram presos sete vezes nos últimos quatro meses. O posto é fechado por alguns dias e reaberto através de liminares. Os advogados argumentam na Justiça que o aumento da Aids entre dependentes de droga é uma ``situação de emergência" que requer medidas extralegais. Os postos recebem assessoria da Universidade da Califórnia. O objetivo do serviço não é dar tratamento aos dependentes, mas oferecer aconselhamento e facilitar o acesso aos serviços de saúde. Pesquisa com frequentadores do posto de Hollywood mostrou que eles deixaram de compartilhar seringas. Alguns, como Shanda, diminuíram o uso e voltaram a estudar. ``Era todo dia, sem parar. Agora me limito às festas." (AB) Texto Anterior: Justiça impediu início do programa Próximo Texto: Governo gasta R$ 50 mil por mês em estoque Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |