São Paulo, sábado, 24 de junho de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Almodóvar é vítima do estilo em "De Salto Alto"

INÁCIO ARAUJO
DA REDAÇÃO

O pior negócio que um diretor de cinema pode fazer, nos dias que correm, é formar uma imagem. Isso que no passado, nos tempos de Bergman e Fellini, chamava-se um universo.
Pedro Almodóvar, autor de ``De Salto Alto" (Bandeirantes, 23h30) tornou-se o nome mais popular (e um dos mais prestigiosos) do cinema espanhol contemporâneo, graças a uma série de filmes em que a forma iconoclasta (referenciada à tradição do melodrama hispânico) encontrava um mundo de personagens ora perversos, ora extremados.
Com um toque, Almodóvar passava da paródia ao mais sincero -e moderno- melô, ou vice-versa. Mas o que fez sua fama parece passar por um desgaste. Em ``De Salto Alto" a balada é a mesma: há uma mãe e uma filha; um amante em comum, ciranda amorosa, espantos.
Mas Almodóvar maneja esses elementos como se por obrigação. Como se os personagens o aborrecessem ligeiramente, e seu desejo real fosse fazer um filme sem excessos, sobressaltos, cheio de gente normal. E alguém financiaria um Almodóvar que fugisse à imagem de Almodóvar? Essa é a história: uma imagem vira uma espécie de prisão. De todo modo, na média o filme se aguenta, embora perca de goleada -o que não é vergonha- para o ``Alemanha, Ano Zero", de Rossellini, que passa às 22h30 na Cultura.
(IA)

Texto Anterior: O céu é azul mas eu tô no vermelho!
Próximo Texto: Arte ganha conteúdo fashion e vice-versa
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.