São Paulo, domingo, 25 de junho de 1995
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Docentes fogem da rede pública

GEORGE ALONSO
DA REPORTAGEM LOCAL

Escolas malconservadas, salários baixos, fuga de professores habilitados, colégios superlotados e violência decorrente da falta de guardas nas escolas. O governo Covas pouco alterou o quadro educacional do Estado até agora.
Os problemas para o governo tucano nessa área começaram em janeiro -resultado do corte de 4.500 seguranças escolares.
Números da própria Secretaria da Educação apontam a tendência de aumento das ocorrências policiais nas escolas. Em 1994, houve 2.523 depredações. Em cinco meses de governo, já são 1.555.
Em 1994, houve nove casos de estupro, número já atingido na atual gestão. Até maio, houve 302 casos de ameaças de morte e espancamento de alunos, contra 501 em todo o ano letivo passado.
No ano passado, ocorreram invasões em 3.612 escolas. Até maio, a cifra é de 1.919 invasões.
Para contornar esse problema, a secretária de Educação, Rose Neubauer, diz que deve colocar 150 vigias nas escolas com maior número de ocorrências -ou seja, na periferia da Grande São Paulo.
``São 150 vagas não-preenchidas, que resultaram de cortes efetuados", afirma Neubauer.
Outro problema é o salário dos professores. Hoje, o piso salarial é de R$ 200 (20h/aula semanais).
Para atingir esse piso ainda irrisório (o anterior era de R$ 140), os docentes entraram em greve por um mês. A secretária reconhece que os salários são muito baixos.
Mas, segundo Neubauer, o governo tem um plano de recuperação salarial a médio prazo -até o final da gestão Covas: ``Ainda estamos num processo de acomodação", diz ela, pedindo paciência.
Os sindicatos dos professores e funcionários da rede, porém, se dizem frustrados. Ao mesmo tempo em que reconhecem as dificuldades e o diálogo que o governador procura manter com o funcionalismo, denunciam a fuga de professores habilitados da rede pública para a iniciativa privada.
``Professores de carreira estão saindo", diz Volmer Pianca, diretor da Udemo (Sindicato dos Especialistas em Educação do Magistério Oficial do Estado).
A secretaria admite que 10% (23 mil) do professorado em sala de aula (230 mil) não está habilitado, mas avalia que é melhor ter um engenheiro dando aulas de matemática do que não ter professor.
Em cinco meses de governo, 31 mil professores saíram da rede -14 mil definitivamente e 17 mil licenciados. Em 1994, desistiram do ensino público 19 mil docentes. Mas, segundo Neubauer, houve ingresso de 34 mil docentes em toda a rede (6.734 colégios). ``É uma flutuação normal", diz.
Outro problema não resolvido são as mil escolas abarrotadas de crianças, com quatro turnos de aulas (e não três). Covas promete informatizar o sistema de matrículas para melhor atender a demanda.
A rigor, o governo não sabe o número exato de estudantes da rede, hoje estimados em 6,7 milhões.

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