São Paulo, domingo, 25 de junho de 1995 |
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Mãe afirma ao Censo que filhos mulatos são negros
CRISTINA GRILLO
A reação de sua mãe, a produtora Lucy Barreto, foi perguntar se ela já tinha pensado que seus filhos seriam mulatos. ``E era o que eu mais queria, ter filhos lindos, que não fossem branquelos como eu e que fossem uma mistura minha e do Cláudio", conta Paula, dezoito anos depois da cena. Os filhos são dois: Camila, 10 e Felipe, 9. De acordo com a certidão de nascimento, os dois são brancos. Para o censo do IBGE, Paula diz que os filhos são negros. ``Minha maior decepção foi quando as crianças nasceram. Elas eram brancas, por isso foram registradas assim. Mas depois o pediatra me tranquilizou e disse que elas iriam escurecer", diz a mãe. Cláudio Adão, ex-jogador do Flamengo, Botafogo e Fluminense e atualmente no Volta Redonda, diz que conversa sempre com os filhos sobre a questão da cor. ``Digo que eles devem ter orgulho de sua cor e não podem trazer desaforo para casa", afirma. As crianças aprenderam. ``As vezes me xingam por causa da minha cor, mas eu não ligo. Sei que é só para tentar me magoar", conta Camila. Felipe é mais radical. ``Chamo logo de branco azedo e de viado. Acaba logo a brincadeira", diz. As resistências familiares de ambos os lados foram vencidas e hoje não há mais problemas. Dificuldades, só quanto ao termo pardo.``Tenho horror a ele. É feio, preconceituoso. Meus filhos são negros e são felizes", diz Paula Barreto. Pelos critérios do IBGE, todos os descendentes de casamentos mistos são pardos. Assim, o filho de um casal formado por um oriental e um branco é considerado pardo -a mesma classificação usada para o filho de um casal formado por um branco e um negro. A demógrafa Valéria Motta Leite conta que a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) feita em 1976 detectou 135 cores diferentes da população brasileira - de acastanhada a turva, passando por azul marinho, branca suja, cor de cuia, morena parda, sapecada e outras. A pesquisa foi feita para subsidiar as investigações sobre a questão da cor no censo demográfico. ``Havia críticas ao fato de o quesito ser fechado (as respostas não eram livres). Na PNAD tentamos verificar a melhor maneira para se descobrir a cor da população. Concluímos que pardo seria melhor", diz Leite. Ela informa que no último censo, os indígenas ganharam denominação própria. (C.G) Texto Anterior: ``Pardo é um saco de gatos", diz estatística Próximo Texto: VEJA A DEFINIÇÃO DE COR DO BRASILEIRO Índice |
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