São Paulo, domingo, 25 de junho de 1995
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Racismo leva músico a se chamar Camburão

MAURICIO STYCER
DA REPORTAGEM LOCAL

O negro Claudiano Silva Feitosa descobriu ao menos uma utilidade no preconceito racial que sofre desde a infância.
Ao mergulhar na carreira de cantor de rap, Feitosa resolveu adotar o nome artístico de ``Camburão" -numa ``homenagem" às dez vezes em que foi detido nas ruas e levado, de camburão, ``para averiguações" em delegacias de São Paulo.
Integrante do polêmico grupo Pavilhão 9 (outra ``homenagem", essa aos 111 presos mortos pela polícia em rebelião no Carandiru), Camburão acha que o rap é a forma ideal de denunciar o racismo no Brasil.
Um racismo, frisa o músico, que também é praticado por negros: ``A maior alegria de um negro fardado (PM) ou com celular é zoar de negro pobre. Sinto nojo desses negros", diz.
O Pavilhão 9 acaba de gravar o seu segundo CD, ``Procurados: Vivos ou Mortos", lançado pela pequena gravadora Paradoxx. ``O chefe lá é branco, mas não tenho problemas com ele", diz Camburão, único artista brasileiro negro da gravadora.
Aos 21 anos, Camburão está noivo e planeja se casar no final de 95 -com uma mulher branca. ``Ela curte som de negão."
Filho de um afiador e de uma dona-de-casa, Camburão largou o colégio ainda no 1º grau para trabalhar. ``O dono da padaria dizia, brincando: `Se esse preto segurar no pão, vai sujar'. Isso me revoltou", conta.
Desde 1989, canta rap, primeiro em um grupo chamado Africa MCs, depois no Pavilhão 9. ``O rap é legal porque você não precisa esconder o que você é, não precisa de fantasia, não precisa ser Zezé de Camargo e Luciano", diz.
(MSy)

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