São Paulo, domingo, 25 de junho de 1995
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O bem e o mal

CARLOS HEITOR CONY

RIO DE JANEIRO - Continuo sem entender parte da mídia que se deslumbra com o atual governo. O entusiasmo é tal e tanto que nem mesmo uma personalidade como Adib Jatene é poupada. Não sendo político profissional, como FHC, Serra, Bresser e caterva, é também o único e escasso governante que rema contra a maré, tem um rumo social e entende a vida pública como um serviço em favor da coletividade e não como exercício acadêmico de guarda-livros.
Não entro no mérito da criação de um novo imposto, tenha ele o nome que tiver. Mas o caso de Jatene é especial: ele ouviu dizer que FHC prometeu pelos cinco dedos uma prioridade para a saúde. Como ministro do setor, descobre que não tem verbas, escamoteadas pelos ministros da área econômica cuja prioridade é pagar banqueiros e especuladores que não abrem mão dos juros cada vez mais altos.
Poucas vezes a luta entre o bem e o mal esteve tão bem representada: de um lado, o ministro que constata a falência da rede de saúde de um país de 110 milhões de excluídos. De outro, um governo inteiro que decidiu cuidar apenas dos 30 milhões de incluídos que podem pagar planos de saúde.
A mídia que devia tirar a média, colocando-se na função que Petrônio chamava de árbitro, não tem pudor em tomar o lado do mais forte, das fontes que plantam intrigas e preparam o campo para a próxima eleição presidencial.
Três candidatos já estão em campanha: José Serra, Ciro Gomes e o próprio FHC. O caso do filho de ACM ainda é uma incógnita, o moço não tem pressa, há o governo da Bahia e há o pai, que, se de um lado ajuda, de outro atrapalha.
Jatene vem recebendo críticas da mídia e do próprio governo. Ele representa a política a favor do povo. O governo explora o povo para fazer política. Os 20 anos de poder que Serjão profetizou para o PSDB terão de passar sobre Jatene, esmagando-o. E esmagando a esperança que nos resta.

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