São Paulo, segunda-feira, 26 de junho de 1995
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'Efeito gangorra' muda aplicações na AL

JOÃO CARLOS DE OLIVEIRA
EDITOR-ADJUNTO DE ECONOMIA

Depois do ``efeito Orloff" (muito em voga durante o governo José Sarney, foi a maneira de mostrar que o Brasil repetiria no dia seguinte as medidas adotadas pela Argentina), há, no mercado financeiro, um novo tipo de ``efeito" entre o Brasil e a Argentina.
Ele é chamado pelo vice-presidente do Citibank, Cássio Casseb Lima, de ``efeito gangorra".
É que a Argentina praticamente realiza sua balança comercial (exportações e importações) contra o Brasil.
Logo, toda vez que o Brasil adotar medidas para preservar sua balança comercial o primeiro país a ser afetado será a Argentina.
``O que é bom para o Brasil vai ser visto como ruim para a Argentina e vice-versa", afirma.
Essa avaliação terá desdobramentos práticos no mercado financeiro e na cotação dos títulos emitidos por ambos os países e pode também afetar o desempenho das Bolsas de Valores.
``O investidor vai querer fazer `spread' (diferença)", diz Casseb Lima.
Isto significa que, quando o Brasil adotar políticas para preservar sua balança comercial, a reação do investidor estrangeiro será a de ``comprar o Brasil e vender a Argentina".
Ou seja, aplicar recursos em papéis brasileiros (ações ou títulos) e vender títulos da Argentina.
Esse tipo de movimento já se esboçou na última sexta-feira, quando os títulos da dívida externa brasileira, depois de um início de pregão em queda, reagiram no mercado internacional. Os da Argentina caíram -a Bolsa de Buenos Aires também fechou em baixa.
É a primeira vez que, depois da crise mexicana, começa um processo de diferenciação entre os países da América Latina. O ``efeito gangorra" está inserido nesse novo contexto.
Recentemente, o Brasil adotou duas medidas que afetam sensivelmente as exportações argentinas: 1) adoção de cotas para as exportações de carros; 2) mudança na "banda cambial" (limite máximo e mínimo para a flutuação do preço do dólar).
No caso das cotas, ainda há uma negociação em andamento entre os dois países. Mas, de todo modo, é simplesmente uma questão de tempo, avalia o mercado, para que o limite seja adotado.
A estratégia brasileira na negociação com a Argentina tem sido a de acertar um regime transitório até o final do ano e um novo sistema para vigorar a partir de 1996.
O ministro argentino, Domingo Cavallo, estava disposto a ceder na questão dos carros porque temia que o Brasil corrigisse a política cambial. Quando o Brasil adotou a nova "banda" -o que aconteceu no momento em que chegava ao país vizinho uma missão diplomática brasileira para iniciar a negociação do regime de cotas-, Cavallo reagiu irritado.
Reclamou que não foi consultado ou avisado previamente da mudança e, depois, afirmou que a Argentina não seguirá o exemplo brasileiro. Isto é, continuará com seu câmbio fixado em US$ 1,00 por um peso.

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