São Paulo, terça-feira, 27 de junho de 1995
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Tabelamento da demagogia

GILBERTO DIMENSTEIN

BRASÍLIA - O presidente Fernando Henrique Cardoso está suando para tentar reverter o movimento no Congresso pelo tabelamento de juros de 12% ao ano. Até ontem à noite, não havia segurança no Palácio do Planalto sobre o comportamento dos próprios parlamentares aliados. É surpreendente até onde vai a leviandade.
A julgar pelas negociações de bastidores, o governo vence mais esse desafio -mas com algum custo. Afinal, o Palácio do Planalto descobriu os encantos da política do ``é dando que se recebe".
Incrível como uma maluquice consegue ir tão longe. Qualquer indivíduo com um mínimo de informação sabe que o tabelamento de juros, se aplicado, provocaria agora uma explosão dos preços -a primeira e maior vítima será, óbvio, o trabalhador.
Temos aí um monumental exemplo dos efeitos da desinformação misturada à demagogia. A desinformação é, em parte, produzida por segmentos empresariais -e, natural, acaba gerando efeitos no Congresso.
Exagera-se o tamanho da crise (que de fato existe). Contamina-se o eleitorado e, assim, envolvem-se o parlamentar, o governador, o deputado ou o senador. Tentam, enfim, tornar a crise pior do que já é.
Diante dos mais recentes números, os vendedores do caos começam a ficar um tanto sem jeito e, compreensível, vão lentamente refazendo suas previsões catastróficas.
Afinal, não conseguem mostrar como um país vive em recessão, mas batem-se recordes de viagens ao exterior; não explicam o crescimento do consumo de energia elétrica ou da arrecadação de impostos. Ou, enfim, não conseguem mostrar por que e como crescem a exportação e importação, ou empresas de alimentos não têm estoque.
Os vendedores do caos manipulam os números de concordatas, mas, espertamente, se esquecem de dizer que, em maio, por exemplo, criaram-se 42,6 mil empresas -13,8% a mais do que no mesmo período do ano anterior.
Por incrível que pareça, essas primitivas manipulações acabam influenciado o Congresso, onde deveriam agir com um mínimo de serenidade.
PS - Em vez do tabelamento de juros, alguém deveria propor o tabelamento da demagogia. Seria uma grande economia.

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