São Paulo, quarta-feira, 28 de junho de 1995
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Ivon Curi foi `chansonnier' com peruca e imagem espirituosa

RENATO KRAMER
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Desde muito pequeno, Ivon José Curi, que morreu no último sábado aos 67 anos no Rio, já queria ser cantor. E cantor romântico. Por isso mesmo se dedicava a cantar cançonetas francesas, ainda em sua cidade natal, Caxambu (MG). E, coincidência ou não, de alguma forma a França estaria ligada ao seu destino.
Foi graças à Mme. Carven, que estava no Brasil lançando o seu perfume "Ma Griffe, que Ivon Curi teve a sua primeira grande chance: ser ``crooner" do Copacabana Palace em 1947. Mme. Carven estava hospedada no hotel e, ao ouvir a voz de Ivon, que fazia seu teste, perguntou: "Quem é o rapaz que canta tão bem em francês? Ele foi contratado.
A carreira de Ivon Curi seguiu em plena ascensão, incluindo rádio, cinema, TV e muito humor. Chegou a ser eleito o "Rei do Rádio, em 1955. Antes disso, já tinha participado de três filmes, o primeiro dos quais ("Aviso aos Navegantes, de Watson Macedo) lhe acarretara uma imagem sexualmente "duvidosa, segundo ele próprio, frente ao público.
Ao ser convidado para seu primeiro filme, ainda com seus 20 e poucos anos, Ivon precisou dar a volta por cima de um probleminha: seus "ralos cabelos. Usou então, pela primeira vez, aquilo que iria se tornar motivo de grande atração na sua trajetória: uma peruca! Até foi homenageado pelo "trapalhão Renato Aragão, que fazia a famosa exclamação: "Pelas perucas do Ivon Curi!.
Cabelos à parte, o garoto mineiro que queria ser um cantor romântico nos deixa uma lembrança entre carinhosa e ingênua. Como o seu "João Bobo, o seu "Retrato de Maria e mesmo o seu jeitão "simpróprio de perguntar "Tá Fartando Coisa em Mim? -três de seus maiores sucessos.
Mas nem só de sucessos foi feita a sua carreira. A década de 60, com o advento da Jovem Guarda, lhe trouxe sérias dificuldades. Foi então que, para sobreviver artisticamente, precisou se dedicar ao repertório dos "famosos do momento, substituindo-os quando estes não compareciam a algum programa de televisão. Assim, Ivon Curi cantava de Ronnie Von a Aguinaldo Timóteo.
Ele voltou a reinar a partir dos anos 70, quando retornou com o show "Ivon em Todos os Tempos, no Teatro Casa Grande. Equilíbrio e simpatia foram talvez as maiores armas do nosso grande "chansonnier.
"Eu, que fazia o gênero Dick Farney, precisei deixar de ser cantor para me tornar cançonetista -depois que meu primeiro filme me `desmoralizou' como cantor romântico. Abracei um gênero muito meu e acredito que a isso devo a minha durabilidade.
Algum tempo depois, Ivon Curi comprou uma churrascaria e a transformou numa casa de espetáculos: a "Sambão e Sinhá, no Rio. Foi nessa mesma época que Caxambu ganhou uma rua com seu nome. Já em 93 passou rapidamente pelo comando do "Show da Manchete, emissora onde pensava relançar o "Almoço com as Estrelas brevemente. "Não quero fechar uma porta, declarou Ivon ao deixar a Manchete.
"Deus fecha uma porta, mas abre uma janela, diz um ditado popular. Para Ivon Curi, Deus fechou uma porta, mas abriu a janela da vida eterna -deixando conosco a imagem nada duvidosa de um "chansonnier comme il faut!

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