São Paulo, sexta-feira, 30 de junho de 1995
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Única mudança é fim de indexador oficial

CARLOS ALBERTO SARDENBERG
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA

A única mudança significativa na passagem do primeiro para o segundo ano do real será a extinção do IPC-r, que foi o índice oficial de inflação, usado na correção de contratos e salários.
Agora, eliminado o indexador oficial, tudo passa para o regime da livre negociação.
As demais bases do programa permanecem. Fica, por exemplo, a Ufir, indexador que corrige os impostos federais a cada três meses. E continua também toda a estrutura atual do sistema financeiro, a ser paulatinamente substituída.
Por isso, a medida provisória do segundo ano do real, embora seja chamada ``MP da desindexação", é muito mais um instrumento que favorece a liberdade de contratação. Essa é a avaliação obtida pela Folha no Banco Central.
Até aqui, os reajustes eram anuais, mas obrigatoriamente pelo IPC-r. Agora, serão pelo que as partes definirem.
A equipe econômica tem a expectativa que, com o tempo os contratos comecem a ser reajustados conforme custos da área.
Assim, desapareceria aos poucos o indexador geral, esse que até aqui era utilizado indistintamente nas diversas regiões do país.
A equipe acredita que, pela lógica da economia, o aluguel na capital de São Paulo passe a ser corrigido por índice diferente do utilizado nas cidades do interior.
Ou que contratos no setor automobilístico comecem a ter regras de reajuste diferente das que valem para a agricultura exportadora. Em resumo, espera-se que a economia se acomode à estabilização, desindexando progressivamente.
No sistema financeiro, a idéia é mexer pelas bordas. Em vez de extinguir ou mudar aplicações financeiras atuais, o que poderia implicar em problemas por quebra de contrato, o BC vai, aos poucos, criar produtos novos.
Não mexe, por exemplo, na atual poupança, mas cria outras modalidades que provoquem a migração dos aplicadores.
E a extinção do IPC-r recoloca o Plano Real em sua versão original. Na primeira versão, em junho do ano passado, não havia IPC-r e os contratos estavam submetidos ao regime da livre negociação.
Foi por pressão do Congresso que se criou o IPC-r, para corrigir automaticamente os salários. E já que ia valer para salários, ampliou-se a utilização do IPC-r para todos os contratos.
Agora, o governo, que é outro, mas com a mesma equipe econômica, tenta restabelecer a versão original, sem IPC-r. Vai ter outra negociação com o Congresso.

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