São Paulo, sexta-feira, 30 de junho de 1995
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Livro prova que Euclides copiava jornais

LUÍS ANTÔNIO GIRON
DA REPORTAGEM LOCAL

Erramos: 30/06/95
Diferentemente do publicado na capa da Ilustrada de hoje, o escritor Mario Vargas Llosa é peruano, e não chileno.
Livro prova que Euclides copiava jornais
O livro ``A Imitação dos Sentidos", do professor paulistano Leopoldo Bernucci, 42, a ser lançado daqui a duas semanas pela Edusp (Editora da Usp), possui substância capaz de incendiar os ânimos do círculo de estudiosos e sacerdotes do escritor fluminense Euclides da Cunha (1866-1909).
Euclides é autor do livro ``Os Sertões" (1902), uma das obras mais cultuadas da literatura brasileira pelo furor épico com que narra a guerra de Canudos. Esta se encerrou em 1897 com a carnificina de cerca de 15 mil sertanejos, 12 mil soldados e a destruição do arraial fundado pelo líder messiânico Antônio Conselheiro.
``Chegou a hora de desmistificar Euclides", anuncia Bernucci. ``Não é um deus literário."
Ele inclui no volume a íntegra do primeiro manuscrito de ``Os Sertões", até hoje inédito e desprezado por muitos euclidianistas.
O pesquisador descobriu o texto de 38 folhas há seis anos na Biblioteca Nacional do Rio, quando fazia pesquisas para sua tese de doutoramento sobre a gênese do romance ``A Guerra do Fim do Mundo", do escritor chileno Mario Vargas Llosa, baseado em ``Os Sertões" (o livro foi publicado em espanhol pela Universidade do Texas em 1989, sob o título ``Historia de un Malentendido").
Bernucci percebeu que o manuscrito era fundamental para o entendimento da elaboração estilística da obra e da relação tempestuosa do autor com o assunto.
Por meio do estudo da letra irregular e das emendas do escritor e depois de comparar o rascunho com obras contemporâneas, Bernucci constatou que a originalidade de Euclides era relativa. Vai além: ele ``arrumou" os fatos ao sabor da própria fantasia, ou mesmo conveniência.
O manuscrito traz, por exemplo, críticas irritadas sobre os comandantes das expedições. Em ``Os Sertões", elas são abrandadas: ``Suavizou os ataques a Pires Ferreira ou Febrônio de Brito, pois isso poderia comprometer suas relações com os militares".
O pesquisador amplia a acusação: ``Euclides plagiou Victor Hugo, Afonso Arinos e se apropriou desavergonhadamente de reportagens publicadas nos jornais à época do conflito. Claro que para tanto se valeu de sua talentosa escritura barroca. Há uma carga poética tão pesada na obra que ela perde o valor documental".
O professor conclui que o autor escreveu o livro às pressas, talvez preocupado com lucros financeiros e literários imediatos. ``Ele ansiava por ingressar na Academia Brasileira de Letras."

LEIA MAIS
sobre Euclides da Cunha às págs. 5-7 e 5-8

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