São Paulo, sábado, 1 de julho de 1995
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Desindexar é `delicadíssimo', diz consultor

MÁRCIA DE CHIARA
DA REPORTAGEM LOCAL

Acabar com a correção automática dos salários com base na inflação passada agora é uma questão ``delicadíssima".
A avaliação é de Claudio Adilson Gonçalez, que foi secretário de política econômica do Ministério da Fazenda do governo Sarney e hoje é sócio da empresa de consultoria MCM.
``Se eu estivesse no governo, não faria isso agora", diz o consultor. Segundo ele, do ponto vista político, o governo pode não conseguir aprovar a medida provisória da desindexação no Congresso Nacional.
Motivo: o governo vai entrar com a medida provisória da desindexação dos salários (correção automática pela inflação passada) em julho, exatamente quando a inflação deve atingir o pico.
Por causa do reajuste das tarifas públicas, explica o consultor, o índice da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) deve bater 4% na terceira quadrissemana de julho. Anualizado, esse índice ultrapassa 60%.
Na avaliação de Gonçalez, isso pode provocar maior resistência na aprovação da medida provisória. Resultado: o Congresso Nacional pode acabar criando um sistema ainda mais rígido de indexação do que o que já existe hoje.
Além disso, diz o consultor, a desindexação pode ser inócua na Justiça do Trabalho. É que para resolver o impasse entre patrão e empregado, os juízes tendem a conceder a incorporação da inflação passada aos salários, explica.
Gonçalez admite que, do ponto de vista macroeconômico, a desindexação dos salários é recomendável. É que em uma economia com salários rígidos fica difícil baixar a inflação sem ajustar o emprego.

Nova poupança
O fato de o governo ter aumentado o redutor da Taxa Referencial, que remunera a caderneta de poupança atual, e ter criado uma nova caderneta, com a rentabilidade maior, pode provocar a migração de dinheiro da velha para nova poupança, diz o consultor.
É que o dinheiro da poupança financia o Sistema financeiro da Habitação. E os bancos que mais aplicaram na habitação são hoje os que têm maiores problemas de falta de caixa.

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