São Paulo, sábado, 1 de julho de 1995 |
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Reajuste inoportuno Ninguém de bom senso negará que parlamentares devem ser bem remunerados. Trata-se de uma atividade essencial pela simples e boa razão de que o Parlamento é um dos fundamentos da democracia. Ainda assim, a pressão de um grupo de parlamentares para reajustar seus próprios salários carrega dois vícios insanáveis: peca por inoportuna e pela indigência dos argumentos em favor do aumento. Afinal, os congressistas preparam-se para deliberar sobre uma MP que estabelece a livre negociação salarial e ainda prevê que reajustes só possam ocorrer uma vez por ano. Ora, os parlamentares já tiveram o seu reajuste de 1995. E foi expressivo: 95,7% em janeiro. Quanto aos argumentos, o mais lamentável é o do deputado Wilson Campos (PSDB-PE), primeiro-secretário da Câmara. Para ele, ``todo estômago do brasileiro é igual, dos trabalhadores e dos deputados". A seguir essa lógica canhestra, algum extremista poderia propor reduzir o salário dos parlamentares a R$ 100, valor com o qual o trabalhador de salário mínimo tem de encher o seu estômago, afinal do mesmo tamanho do estômago do deputado. Mesmo ao descartar o aumento, o presidente da Câmara, Luís Eduardo Magalhães (PFL-BA), é infeliz na argumentação. Diz que as informações disponíveis ``não demonstram que a maioria dos deputados esteja com dívidas no banco". E se estivesse? O problema do endividamento em bancos aflige crescente número de brasileiros, pessoas físicas ou jurídicas, sem que a eles seja dado o privilégio de auto-aumentar seus vencimentos. É inegável que o Congresso, talvez o mais acidamente criticado dos Poderes, está tendo, neste ano, um desempenho melhor do que em períodos anteriores. A presença em plenário tem sido maciça e as votações andam em ritmo acelerado. O aumento, agora, equivaleria a desandar o caminho, ainda pequeno, percorrido pelos congressistas para recuperar sua combalida imagem. Texto Anterior: Sempre os mesmos Próximo Texto: Estímulo à modernização Índice |
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