São Paulo, terça-feira, 4 de julho de 1995
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Inquérito vai apurar favorecimento no Rio

FERNANDA DA ESCÓSSIA
DA SUCURSAL DO RIO

O procurador da República no Rio André Barbeitas determinou ontem a abertura de inquérito para apurar a participação do superintendente da Receita Federal, Seraphim Cipriano, e de outros funcionários do órgão em liberações irregulares de bagagens no Aeroporto Internacional do Rio (Galeão).
A Procuradoria dispõe de uma lista de aproximadamente 350 nomes que teriam privilégios ao passarem pelos fiscais da alfândega do Galeão. Suas bagagens não seriam vistoriadas.
A existência da lista foi noticiada domingo pelo jornal ``O Estado de S.Paulo". Entre os passageiros privilegiados, estariam os deputados Roberto Campos e Francisco Dornelles (ambos do PPR-RJ) e o economista Winston Fritsch.
Segundo Barbeitas, a confirmação dos privilégios configura dois crimes: descaminho (entrada ilegal de mercadorias no país) e prevaricação (omissão de informações ou prática de irregularidades por funcionário público).
O ex-inspetor da alfândega no Galeão Sylvio Sá Freire confirmou que costumava receber ordens do escritório da Receita para que alguns passageiros tivessem a vistoria ``aliviada".
``Às vezes, eram mais de 12 nomes por dia. Eu não atendia os pedidos. Com o tempo, os nomes dos privilegiados passaram a ser transmitidos para os fiscais da bancada de bagagem", afirmou.
Sá Freire disse que os nomes dos privilegiados eram transmitidos pela secretária de Cipriano, que ele identifica apenas como ``dona Elda".
O procurador Barbeitas determinou que sejam ouvidos no inquérito todos os passageiros da lista, o superintendente Seraphim Cipriano, ``dona Elda", o ex-inspetor Sá Freire e o ex-chefe do setor de bagagens Bélson Pureza.
Sá Freire e Pureza foram afastados dos cargos depois da liberação da bagagem dos jogadores da seleção brasileira de futebol e de toda a delegação, em julho de 1994.
A Procuradoria da República no Rio também determinou que a Polícia Federal investigue a vinda para o Galeão do grupo envolvido com o esquema de propinas no aeroporto de Cumbica, em Guarulhos (Grande São Paulo).
A informação foi passada pelo procurador João Francisco Rocha da Silva, de São Paulo, à coordenadoria do Ministério Público Federal no Rio. Barbeitas pediu à PF que investigue, inclusive, a possibilidade de os funcionários de Cumbica, afastados por suspeita de corrupção, estarem sendo transferidos para o Rio.
Na semana passada, 34 funcionários da inspetoria de Cumbica foram transferidos pela Receita para outras funções.
``Achamos que pode haver conexão em esquemas de corrupção nos dois aeroportos. Não pensamos que vá haver uma transferência formal de funcionários, mas uma ação informal", disse.

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