São Paulo, terça-feira, 4 de julho de 1995 |
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Mexicanização em marcha
LUÍS NASSIF Apesar de todas os riscos envolvidos, de todas as evidências sobre os erros cometidos, o governo está disposto a prosseguir na política cambial, que expõe o país aos capitais internacionais especulativos.A cada pressão maior, o Banco Central toma medidas tópicas, que apenas sugerem revisão das posições anteriores, e medidas objetivas -que reforçam as amarras na política atual. A medida tópica é a elevação da banda cambial, sem nenhuma garantia de que se vá mexer no câmbio. As medidas objetivas consistem em ampliar a dolarização do passivo, através da extensão dos financiamentos internacionais à agricultura e às sociedades de crédito imobiliário. Ao mesmo tempo, o BC está formando um colchão de liquidez, que lhe permita financiar os déficits no balanço de pagamento. Numa frente, o Diretor da Área Externa do Banco Central, Gustavo Franco, vem captando recursos externos a prazos mais elásticos. Ocorreu com o financiamento em iene e, agora, com financiamentos em marco. Na outra frente, avolumam-se os sinais de que o Brasil estaria negociando com o FMI uma linha de crédito em aberto, à qual acorreria em caso de crise cambiais agudas. Tudo isso parece indicar que, ao invés de trabalhar com a hipótese de reverter os déficits comerciais via política cambial, o BC está se preparando para aprofundar ainda mais a dependência dos capitais especulativos. Nas entrevistas do final de semana, Franco procurou acalmar a opinião pública, sustentando que o curto prazo está sob controle, e se fechará com tranquilidade o balanço de pagamentos no ano. Ninguém jamais colocou em dúvidas o curto prazo. A questão é o médio prazo. Desde o ano passado, o Real vem sendo administrado exclusivamente em função do curto prazo, comprometendo cada vez mais o médio prazo. Já estava na hora da equipe econômica começar a recorrer a um mínimo de imaginação abstrata, e tentar projetar o resultado de suas decisões para um tempo menos curto -um ano, por exemplo. O filho é seu O jornalista Élio Gáspari descobriu o segundo pai da política cambial do real: o economista André Lara Resende. Seria bastante útil aos leitores se, em sua substanciosa coluna semanal na Folha, Lara Resende explicasse qual o raciocínio em que se baseou para defender a política cambial do início do Real, assim como a não fixação de limites ao ingresso do dinheiro especulativo internacional. Lembro apenas que a alegação de que se precisaria derrubar o superávit comercial, para abrigar o capital que entraria com o início do processo de privatização, esbarra em duas evidências. O primeiro, que a privatização só teria início efetivo no mínimo 18 meses depois do início do real. O segundo, que pode-se perfeitamente privatizar sem internalizar dólares no país. Um bom argumento ajudaria a reforçar as teses de Lara Resende, acerca da neutralidade das políticas econômicas formuladas por acadêmicos. Chá beneficente A ``Associação Estou Com o Real e Não Abro" convida para chá beneficente às 17 horas do dia 2 de novembro. Na oportunidade, a senhora Cosette Alves discorrerá sobre o tema ``como analisar britanicamente o real sem perder o aplomb", tema de seu artigo na Folha de ontem. Estão convidados agricultores quebrados, pessoas físicas inadimplentes, empresas em processo de falência e concordata e trabalhadores desempregados -desde que, britanicamente, conservem o ``aplomb". O chá será intragável. Mas a prosa simpática e inteligente de dona Cosette é garantia de uma tarde agradável. Texto Anterior: Das agências internacionais Próximo Texto: Poupança não perde, diz Gatti Índice |
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