São Paulo, quarta-feira, 5 de julho de 1995
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Futebol sul-americano `engatinha' contra a pobreza e a desorganização

MARCELO DAMATO
DO ENVIADO AO URUGUAI

O futebol sul-americano ainda vive na pobreza. Exceto por alguns nichos de prosperidade, movimenta pouco dinheiro.
O Brasil tem, historicamente, o futebol mais caro. E essa diferença aumentou em 94, com o Plano Real e a conquista do tetra.
Por isso, os preços dos passes e os salários explodiram.
Um atacante de seleção brasileira não sai por menos de US$ 5 milhões, mesmo para clubes brasileiros. Por esse preço, pode-se comprar toda a seleção da Bolívia.
Atua no Brasil o jogador mais bem pago da América do Sul: Romário, do Flamengo, ganha US$ 65 mil por mês.
A explosão dos gastos levou os clubes a aumentarem o preço do patrocínio das camisetas para até US$ 2,5 milhões por ano.
Mas os clubes brasileiros não são os mais bem remunerados em todas as faces do futebol.
No Chile, os dois clubes que disputaram o título de 94 ganharam, cada um, US$ 200 mil pelo televisionamento da final.
No Brasil, os times costumam receber menos de US$ 50 mil.
O patrocínio das camisas é um dos pontos que mostra melhor a diferença entre os países.
No Chile, a cervejaria Cristal patrocina a maior parte dos clubes. Quase não há concorrência.
Já na Bolívia, vários clubes não recebem quase nada, uma vez que seus presidentes usam o espaço em proveito próprio, para divulgar alguma empresa que possuam.
Há ainda casos de leis danosas.
O ex-presidente peruano Alan García, por exemplo, acabou com a lei do passe. Após cumprir seu primeiro contrato profissional (dois anos, em média), o jogador pode ir para o clube que quiser.
O resultado é que os times de médio e pequeno portes desativaram os departamentos amadores e passaram a contratar jogadores.
Com isso, a formação de novos atletas despencou. Há dois anos, os clubes tentam mudar de novo a lei, sem sucesso.
A Bolívia tem um exemplo que deu certo: as ``academias de futebol". São empresas que formam jogadores e os vendem aos clubes quando eles se tornam profissionais. Mais da metade da seleção boliviana veio daí.
Em alguns países, o preço máximo dos ingressos não chega a US$ 10.
(MD)

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