São Paulo, quarta-feira, 5 de julho de 1995 |
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`Casseta & Planeta' satiriza onda esotérica
ARMANDO ANTENORE
Os autores da ``obra iluminada" juram que a frase é do cantor e compositor Tim Maia. Poderia ser de qualquer motorista que colou no pára-brisa um adesivo do tipo ``Eu atropelo duende". Afinal, a nova criação coletiva dos humoristas Bussunda, Reinaldo, Hélio de la Peña, Hubert, Cláudio Manoel, Marcelo Madureira e Beto Silva cai como uma luva para homens e mulheres de pouca fé. Gente que insiste em minimizar o poder das brochuras de Paulo Coelho e Lair Ribeiro -mesmo depois que a dupla encheu os bolsos de dólares. O livro místico do ``Casseta & Planeta", que a editora Record lança ainda em julho, traz de tudo: horóscopo, anjos, pirâmides e outros fenômenos que ``não estão no mapa astral". O estilo é o de sempre, velho conhecido de quem acompanha as peripécias da trupe pela TV. Às tiradas desconcertantes, juntam-se trocadilhos infames, escatologia e preconceitos de toda sorte. Best seller Bussunda e cia. já cometeram pílulas de sabedoria outras vezes. Em janeiro de 94, o grupo escreveu o ``Grande Livro dos Pensamentos de Casseta & Planeta". Sete meses depois, lançou o ``Manual do Sexo Manual". No início de 95, voltou à carga com ``O Enorme Livro de Pensamentos de Casseta & Planeta". Os três títulos, publicados pela Record, venderam juntos aproximadamente 100 mil exemplares. É um número muito acima da média brasileira, mas ninharia perto das cifras alcançadas pelos autores que o novo volume satiriza. Nos últimos oito anos, por exemplo, o mago Paulo Coelho vendeu 7 milhões de livros dentro e fora do país. Os humoristas não escondem que o desempenho do mestre os impressionou. Sedentos de fama e fortuna, decidiram repetir a trilha do criador de ``O Alquimista". Pensaram, primeiro, em percorrer o ``sagrado Caminho de Emílio Santiago". Refletiram melhor e resolveram pular a penosa etapa. Tempo é dinheiro, proclamam. Nunca deixe para depois o livro que pode escrever agora. Seguindo recomendações de uma numeróloga, trocaram de nome e assinam a obra como Kaassetta de Pppplllanetttta. Estão tão satisfeitos com a mudança que aconselham Tarcísio Filho a fazer o mesmo. O ator, ensinam, deveria passar a se chamar Francisco Cuoquinho. Nas 128 páginas do livro, há espaço para considerações sobre seitas orientais milenares -como a seicho no-iê-iê-iê. Há, também, um dicionário esotérico (leia trechos à direita) e uma versão gay da Bíblia -em que Adão e Amílcar, únicos habitantes do Paraíso, passam 757 anos tentando gerar alguém. Como não conseguem, pegam um garotão para criar, ``um surfista. O Zé Roberto." Na metade da obra, os humoristas enumeram simpatias infalíveis. Revelam, por exemplo, como comprar Coca-Cola com casco de Pepsi. Mais adiante, retornam à Bíblia e apresentam o Novíssimo Testamento em versão 2.0 for Windows e cinco capítulos: Genesis; Emerson, Lake & Palmer; Nirvana; Rolling Stones e Chitãozinho & Xororó ou o Apocalipse. Texto Anterior: Discriminação é confessável no elevador Próximo Texto: Show de Laurie Anderson encerra evento Índice |
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