São Paulo, quinta-feira, 6 de julho de 1995
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FHC ataca miséria e prega 'utopia possível'

ANTONIO CARLOS SEIDL
DO ENVIADO ESPECIAL A CARACAS

``Não se pode mais aceitar bolsões de miséria nos países em desenvolvimento", afirmou ontem o presidente Fernando Henrique Cardoso, em Caracas, ao receber o título de doutor ``honoris causa" da Faculdade de Ciências Econômicas e Sociais da Universidade Central da Venezuela (UCV).
FHC foi professor do Centro de Estudos de Desenvolvimento da UCV entre 75 e 79. Falando em espanhol, ele acrescentou: ``Em muitos países, há condições de combater esses bolsões de miséria. Se não se faz, é porque há vontade de manter a desigualdade".
O presidente fez ainda uma revisão do que chamou de ``capitalismo autoritário", que teria vigorado em vários países da América Latina, reconhecendo nele virtudes históricas: ``O capitalismo autoritário, ao modernizar partes do aparelho produtivo, criava as bases para a sua superação".
Durante boa parte de seu discurso, o presidente lembrou as ``utopias" libertárias da América Latina, mas concluiu com um apelo ao realismo: ``Agora, trataremos de fazer as mudanças orientados pelas utopias possíveis".
O título foi anunciado, no ano passado, como parte do 19º Congresso da Associação Latino-Americana de Sociologia.
Depois da solenidade na UCV, FHC assistiu, como convidado do presidente venezuelano, Rafael Caldera, ao desfile militar em comemoração ao 184º aniversário da independência da Venezuela.
Durante almoço na Câmara de Comércio e Indústria Venezuelano-Brasileira, Fernando Henrique Cardoso disse que soube que seria o presidente no dia 10 de julho de 1994. Na época, ``o candidato (Lula) à Presidência tinha 40% de intenção de votos e eu 12%".
``Dez dias depois do Plano Real sabia que ia ser presidente porque o povo me mostrava notas de R$ 1 com orgulho, durante uma viagem ao interior da Bahia, dizendo que valia mais do que um dólar", disse o presidente.
``Essas pessoas nunca tinham tocado em um dólar, mas sentiam, com orgulho, em ter uma moeda que vale", afirmou FHC. ``Soberania é isso, e não slogans `abaixo não sei quem', e sim a autoconfiança na moeda nacional".

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