São Paulo, sexta-feira, 7 de julho de 1995
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Neil Young mostra que Pearl Jam é mais fã do que discípulo

LUÍS ANTÔNIO GIRON
DA REPORTAGEM LOCAL

O cantor e compositor canadense Neil Young é um dinossauro do rock que nunca se petrificou nas próprias fórmulas.
Esse velocirraptor de 49 anos e 36 de carreira é dado a guinadas de humor, e de estilo. Acaba de lançar nos EUA ``Mirror Ball", 38º disco de sua carreira.
Nas 11 faixas do CD, a sair no fim do mês no Brasil, ele se associa à banda Pearl Jam para criar uma bizarra acoplagem entre o rock dos anos 60 e o gênero grunge de Seattle.
O Pearl Jam é uma das bandas atuais mais populares dos EUA, estrela de Seattle e confessadamente influenciada por Young.
Este pertence à geração que trocou o folk pela guitarra. Ajudou a embasar a contracultura, com letras metafóricas e um desejo de utopia recalcado no pessimismo.
A influência de Young sobre o PJ não é explícita. Não há identidade entre os gritos melismáticos de Eddie Vedder, do PJ, e o canto fanhoso de Young. O chumbo e as distorções da banda de Seattle devem mais ao punk do que ao folk.
Há, porém, qualquer coisa na embocadura comportamental e nas camisas de flanela que aproxima as duas gerações. A junção meio desviada se faz sentir no disco.
A parceria entre o músico e a banda tem dois anos. O PJ abriu a turnê de Young em 1993. Nesse ano, juntaram-se para tocar ``Rockin' in the Free World", de Young, no ``Music Video Awards" da MTV.
Em ``Mirror Ball", o Pearl Jam comparece como acompanhante e arranjador. Dá a forma final, pesado, ao disco. Mas é um trabalho de Young. Composições e vocais são dele. O CD exala nostalgia dos anos 60, dos hippies, do ``on the road". O título traz a reminiscência do globo de espelhos das festas daquela década.
Em composições como a valsa ``Song X", que abre o disco, e a balada ``What Happened Yesterday", fica evidente por que a ciclotimia e a fluidez estética levaram Young a ser adotado pela Geração X como precursor.
É a referência passada mais identificada com a negatividade e o desleixo dos anos 90.
``As pessoas da minha idade não fazem o que eu faço", grunhe Young em ``I'm the Ocean", a melhor faixa, canção lenta preludiada pelo harmônio.
O PJ interfere na música com uma turbina de guitarras. Introduz excesso no frágil equilíbrio da inspiração tardia de Young. Soa como uma profanação, concedida.
``Mirror Ball" prova que o conflito de gerações existe a despeito do pendor ecumênico das gerações. Young não se une em nenhum momento ao grunge. Tal deslocamento dá ao disco seu aspecto mais comovente. O rock tem abismos intransponíveis.

Disco: Mirror Ball
Lançamento: Reprise/Warner
Quanmto: R$ 20 (o CD, em média)

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