São Paulo, sexta-feira, 7 de julho de 1995
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A inteligência e o fim da linha

CLÓVIS ROSSI

BUENOS AIRES - É divertido, mas talvez seja inútil, ficar discutindo quem é mais burro ou mais safado, se os esquerdistas ou os neoliberais.
Com uns ou com outros no governo, o fato é que a tal de América Latina continua sendo o fim da linha, em matéria internacional, se se esquecer a África.
Basta ver a relação de mandatários que confirmaram presença na posse, amanhã, do presidente argentino Carlos Saúl Menem, reeleito em maio. São 11 presidentes, 9 da América Latina. Os outros são de Malta e da Croácia, que não chegam, com todo o respeito, a ser países de primeira linha.
A Croácia até que poderia ser uma atração, do ponto de vista jornalístico, dada a situação na antiga Iugoslávia. Mas quem vem é o presidente, Nikica Velantic, e não quem manda, Franjo Tudman.
Resultado: os ``inteligentes" neoliberais, majoritários no subcontinente, ficarão falando sozinhos, por mais que tenham se esforçado, nos últimos anos, em cortejar o Primeiro Mundo e em seguir, cada um com mais vigor do que o outro, o receituário de ajuste econômico que o Primeiro Mundo avia, mas nem sempre aplica.
Os Estados Unidos, desta vez, nem ao menos mandaram o vice-presidente Al Gore. A delegação será chefiada por um mero conselheiro do presidente, Thomas McLarty, ainda que tenha nível ministerial.
A Grã-Bretanha, pátria-mãe do neoliberalismo, esnoba: manda uma baronesa, que, segundo os jornais argentinos, exerce as funções de coordenadora da Câmara dos Lordes, quase tão decorativa quanto a rainha.
Nem estará Fidel Castro, o presidente cubano, sempre uma imperdível atração jornalística. Previsível: Menem nunca chegou a dizer abertamente que Castro é burro, mas trata-o como tal. É pena. Burro ou não, na sua mais recente aparição internacional, Fidel abriu seu discurso citando Calderón de la Barca e seu ``la vida es sueño e los sueños, sueños son".
Calderón de la Barca não resolve os problema de Cuba, mas é mais agradável do que, digamos, Milton Friedman.

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