São Paulo, sábado, 8 de julho de 1995
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Presidente e Cavallo ocultam divergências

CLÓVIS ROSSI; DENISE CHRISPIM MARIN
DO ENVIADO ESPECIAL E DE BUENOS AIRES

O presidente Fernando Henrique Cardoso e o ministro argentino da Economia, Domingo Cavallo, fizeram ontem juras intensas e públicas de amor pelo Mercosul.
Foi durante o encerramento do seminário ``A Banca e a Produção", no tradicional Hotel Alvear, em Buenos Aires, pouco menos de um mês depois que Brasil e Argentina entraram em conflito pela política do setor automobilístico.
A discordância sobre a questão das cotas de importação de carros chegou a pôr em risco o Mercosul, a união formada pelo Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai.
O Mercosul ``não é um jogo de soma zero; é um empreendimento em que vamos ganhar Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai", começou Cavallo.
Reforçou o presidente brasileiro: ``O Mercosul é um princípio fundamental de nossa política externa, de nossa política econômica e também de nosso sentimento nacional".
Às duas frases, seguiram-se aplausos fortes e óbvios da platéia, majoritariamente formada por banqueiros e empresários argentinos.
As duas autoridades evitaram cuidadosamente tocar no tema da recente divergência, a não ser de forma indireta.
Cavallo, por exemplo, disse que é ``natural que apareçam necessidades de negociação e inclusive de renegociação".
Ele declarou que os problemas serão resolvidos, ``porque há um grande compromisso político" dos dois países com a aliança sub-regional.
``Vamos negociar sempre, assim é a vida civilizada", concordou Fernando Henrique Cardoso.
E acrescentou, trocando o castelhano pelo latim: ``Negociar de `bona fide' (boa-fé)".

Bolívia e Chile
O presidente brasileiro reiterou o desejo de ``atrair a Bolívia e o Chile" para o Mercosul. Esses dois países estão negociando com os quatro sócios originais sua entrada na organização.
Nem mesmo aos jornalistas brasileiros, em rápido contato, FHC quis falar sobre a disputa dos automóveis. ``É uma questão técnica. Eu vim discutir a relação mais profunda com a Argentina", afirmou o presidente.
O presidente brasileiro e Cavallo também fizeram questão de dizer que o relacionamento bilateral ajuda muito a economia dos dois países.
Cavallo chegou a dizer que a estabilização da economia brasileira com o Plano Real e o seu consequente crescimento ``ajudaram muitíssimo" a Argentina a enfrentar as consequências da crise mexicana de dezembro passado.
Já o presidente brasileiro afirmou que ``o progresso do Brasil depende de um progresso mais amplo da Argentina e vice-versa".
Os empresários argentinos esperavam mais. Queriam que Fernando Henrique repetisse a afirmação feita na Venezuela segundo a qual o Brasil desistiu de impor cotas à importação de carros argentinos.
É uma garantia que também o presidente Carlos Menem gostaria de ouvir, no encontro que os dois mandatários mantiveram no final da tarde na residência oficial de Olivos, subúrbio ao norte de Buenos Aires.
(CR e DCM)

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