São Paulo, sábado, 8 de julho de 1995
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PF investiga delegado da `máfia do açúcar'

XICO SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma equipe da Polícia Federal esteve esta semana em São José do Rio Preto (SP) para investigar o possível envolvimento de um dos seus delegados com o esquema conhecido como ``máfia do açúcar".
Esse caso, protagonizado por usineiros paulistas, é considerado pela Receita Federal e pela Secretaria da Fazenda de São Paulo como uma das maiores fraudes fiscais da história do país.
O delegado José Nazareno Rodrigues, responsável pelas investigações da ``máfia do açúcar", agora é acusado de colaborar para o arquivamento de inquéritos sobre a participação das usinas.
A PF iniciou a investigação sobre o seu próprio delegado para atender a um pedido do Ministério Público Federal de São Paulo.
Segundo o pedido, o trabalho de Rodrigues forneceu argumentos à Justiça para facilitar o arquivamento de nove inquéritos contra as usinas Santa Helena, Santa Bárbara, São Geraldo, Santa Elisa, Bonfim, Santa Rosa, Santa Rita, MB e Bom Jesus.
As nove usinas, de acordo com o Ministério Público, evitavam o pagamento de impostos com o uso de notas fiscais falsas obtidas de empresas fictícias na região amazônica. Os usineiros negam participação no esquema.
O produto, de acordo com o Ministério Público, saía de São Paulo como se estivesse destinado à Amazônia, onde é isento de qualquer imposto. Mas esse era apenas um jogo de faz-de-conta.
Na prática, estava sendo negociado mesmo aqui no Estado, onde os usineiros teriam que pagar 36% entre tributos estaduais e federais.
A Folha ligou quatro vezes ontem à tarde para Rodrigues, comunicando o teor da reportagem aos seus auxiliares. Os seus ajudantes em São José do Rio Preto informaram que ele não atenderia aos telefonemas.
Até o mês passado, levantamentos da Secretaria da Fazenda de São Paulo e a Receita Federal apontavam para uma fraude fiscal de R$ 17 milhões.
Este valor, resultado dos primeiros balanços, pode chegar a pelo menos R$ 100 milhões, segundo auditores da Receita ouvidos ontem pela Folha.
Com o possível afastamento de Rodrigues do caso, as investigações devem ficar sob a responsabilidade do delegado Paulo Lacerda, o mesmo que esteve no comando do Collorgate -episódio que resultou no impeachment do ex-presidente Collor (1990-1992).
Com as revelações de esquema de sonegação em Cumbica e do porto de Santos, a PF voltou a reforçar as investigações sobre a ``máfia do açúcar", tema considerado prioritário no momento.

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