São Paulo, sábado, 8 de julho de 1995
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FHC ameaça cortar crédito de empresas

CLÓVIS ROSSI; DENISE CHRISPIM MARIN
ENVIADO ESPECIAL A BUENOS AIRES

DENISE CHRISPIM MARIN
O presidente Fernando Henrique Cardoso ameaçou ontem cortar o crédito de todas as empresas que repassarem para os preços aumentos de salários que vierem a conceder como fruto da livre negociação com seus empregados.
A ameaça foi feita em rápido e tumultuado contato com os jornalistas brasileiros, ao deixar o salão do Hotel Alvear onde discursara.
O presidente brasileiro encerrou o evento ``A Banca e a Produção", organizado pelos bancos estrangeiros instalados na Argentina.
FHC disse, primeiro, que não haveria repasse para os preços de aumentos salariais. Emendou em seguida: ``Se repassarem para os preços, a gente corta o crédito".
Depois, em visita à fragata brasileira ``Niterói", ancorada no porto local, FHC voltou ao assunto com uma frase eloquente: ``O empresário que dá aumento e faz o repasse (para o preço) está enganando o trabalhador. Não dá aumento. Dá com uma mão e tira com a outra".
Ainda em tom ameaçador, afirmou: ``Se houver algum abuso, quem escolhe as armas não sou eu". Para FHC, o que tem que haver não é o repasse, mas ``aumento de produtividade". E disse que, se ``houver qualquer tentativa contra a estabilização, a principal responsabilidade do governo é defender o povo".
O presidente aproveitou para, de novo, afastar a hipótese de uma recessão no Brasil. Disse que os dados que vira ontem ``mostram que a atividade econômica ainda está muito forte". E acrescentou: ``Não há perigo de recessão".
Mas, no discurso a uma platéia predominantemente formada por banqueiros, FHC admitiu que alguns setores sociais e econômicos brasileiros sofreram mais em consequência da política da estabilização por ele adotada.
``Alguns setores da classe média pagaram um preço injusto", disse o presidente, após aludir aos aumentos de preços de vários serviços, muito acima da média.
``O setor agrícola também teve perda de renda", acrescentou FHC. Responsabilizou o aumento da oferta, que, por sua vez, favoreceu as camadas de baixa renda, já que os preços dos alimentos subiram pouco.
Só na improvisada entrevista durante a visita à fragata, o presidente mencionou estudos para que a próxima safra agrícola seja toda financiada com juros de 16% ao ano, que correspondem à TJLP (Taxa de Juros de Longo Prazo).
Disse também que está analisando com os governadores estaduais as alíquotas de ICMS para o setor agrícola e, com o Banco do Brasil, ``uma separação entre bons e maus credores".
``Os bons devem ter uma chance", acrescentou.
O presidente insistiu na condenação do que vem chamando sistematicamente de ``fracassomaníacos", aqueles que sempre acham que não vai dar certo.
``O Brasil vai dar certo porque o povo quer que dê certo", afirmou depois, quando um jornalista pediu mais explicações sobre a ``fracassomania".
FHC delineou também a agenda para o segundo semestre, igualmente conhecida: os projetos de reforma do aparelho administrativo, de reforma fiscal, incluindo a tributária, e da Previdência Social.
Uma frase do presidente, de todo modo, pode indicar que ele ainda não comprou a proposta do ministro da Saúde, Adib Jatene, de criar uma nova versão do IPMF, o imposto sobre movimentação financeira, para financiar a saúde.
``Não se pode pedir ao país mais impostos para fazer investimentos em áreas vitais", disse o presidente.
FHC chegou a Buenos Aires pouco depois das 12h, para participar da posse de Carlos Menem em seu segundo mandato como presidente da Argentina.

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