São Paulo, sábado, 8 de julho de 1995
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De viagens e bagunças

ALBERTO HELENA JR.

Foi uma viagem infernal. Digamos que eu poderia, neste exato momento, estar em Paris ou Nova York.
Estou em Rivera, a um cuspe de Santana do Livramento, na fronteira do Brasil com o Uruguai. Mais precisamente, sentado sobre o cimento gelado do estádio de futebol onde Brasil e Equador acabam de entrar em campo. Não sou capaz de descrever-lhes em detalhe esse velho ritual, posto que uma multidão de bicões, jornalistas, sorridentes vendedoras de coca-cola, um pelotão da guarda municipal, duas louras peruas, um descendente direto de Montezuma, e, estou convencido, o tio de Vargas Llosa, com o perfil exato do escritor peruano, coroado por longa e lisa cabeleira branca, todos eles unidos e decididos a me impedir de ver o que se passa no campo de jogo.
Juro que julgava jamais participar de bagunça igual à da Copa dos EUA. Queimei a língua.
Pouco antes, deu para captar alguns laivos da preliminar entre Colômbia e Peru. Aqui entre nós, uma caca. A não ser nos breves momentos em que a bola caía nos pés desse genial vagabundo chamado Valderrama. Um bicho preguiça, que pensa cem anos à frente de todos os seus companheiros e adversários juntos. Em todo caso, a Colômbia foi melhor, fez o primeiro gol, para, logo em seguida, Higuita compensar, levando um gol de cobertura do meio do campo, como lhe é peculiar.
Bem, bola rolando com o Brasil em campo e parece que a inhaca, semeada por Colômbia e Peru, semeava entre brasileiros e equatorianos. A não ser em uma bola chutada por Juninho no travessão inimigo e em duas investidas de Túlio de cabeça. E ainda bem que o juiz resolveu terminar esse modorrento primeiro tempo.
No segundo, nada de novo, até que, aos 21min, deu um estalo em Zagallo: entrou Sávio no lugar de Túlio. Fiat lux: o ataque ficou veloz, insidioso; Juninho, inerte até então, despertou, e o gol seria apenas uma questão de tempo. Coube a Ronaldo resolver a questão.
Nesse instante, um jornalista português, de ``O Recorde", vira-se para seu patrício e comenta que Ronaldo lembrava-lhe o francês Desailly, do Milan.
O outro emendou: só que mais compacto.
Pode ser. Ronaldo é mesmo compacto.
Mas o impacto chama-se Sávio.
Ou alguém ainda tem dúvida que esse menino de ouro já é o novo titular da seleção brasileira de futebol?
Acreditem se puderem, desligaram a luz do estádio.
Encerro pois a minha mensagem.

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