São Paulo, sábado, 8 de julho de 1995
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Maluf tem estratégia para mudar imagem

ELVIS CESAR BONASSA
DA REPORTAGEM LOCAL

A campanha publicitária da Secretaria Municipal de Cultura faz parte de uma estratégia mais ampla de marketing: consolidar uma nova imagem política para o prefeito Paulo Maluf.
Maluf montou, junto à sua Secretaria de Planejamento, uma central de publicidade. Todas as campanhas, de qualquer área do governo, passam por ali. Com isso, ficam integradas em um plano global.
No caso da Cultura, os assessores de marketing de Maluf descobriram que a população identifica as atividades culturais muito mais com o PT, partido da antecessora Luiza Erundina, do que com o atual prefeito.
Interessado em se mostrar, desde o início do mandato, como um ``prefeito cultural", característica que pode render bons dividendos eleitorais, Maluf quer reverter essa situação. Os assessores adotaram o lema: ``Maluf não é apenas um prefeito que faz obras".
Para conseguir isso, o prefeito exige do secretário Rodolfo Konder grande repercussão de suas atividades. E Konder adotou a receita à risca. Impôs como meta atingir a marca de mil eventos por mês. Um número simbólico e propagandístico.
Os eventos acompanham uma dupla lógica: quantidade e visibilidade. Por essa razão, somam-se coisas como feira de gibis com concertos de música clássica no parque Ibirapuera. Eventos do primeiro tipo fornecem número. Os do segundo atraem grandes públicos e repercussão na mídia.
Não haveria problemas se tal estratégia fosse acompanhada por investimentos em estruturas de maior permanência. Mas, na corrida contra os números, Konder renunciou a isso.
Bibliotecas e casas de cultura estão com recursos minguados. Falta nesses casos dinheiro para a manutenção de atividades básicas, como, por exemplo, a restauração de livros ou mesmo o aluguel de filmes destinados a cursos sobre os cem anos do cinema. Com isso, a Casa de Cultura municipal que fica ao lado do conjunto habitacional Cohab 2/3 (Itaquera, zona leste), com 250 mil habitantes, não consegue atrair mais de cem pessoas por mês.
O Teatro Municipal está na dependência financeira de sua Associação de Patronos e do Mozarteum, uma sociedade privada que traz concertos importantes por conta própria. As apresentações acontecem no Municipal para os associados do Mozarteum, ficando reservada para o público uma cota de, em média, 20% dos -piores- lugares.
Na reestruturação das carreiras do funcionalismo, a área de cultura ficou de fora, o que significa que tem hoje os piores salários. Um bibliotecário, por exemplo, com oito horas diárias de trabalho, começa com salário em torno de R$ 400 e chega ao fim de carreira com pouco menos de R$ 1.000.
(ECB)

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