São Paulo, domingo, 9 de julho de 1995
Próximo Texto | Índice

Déficit comercial desafia o plano

JOÃO CARLOS DE OLIVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Economistas ouvidos pela Folha acreditam que o governo deve continuar perseguindo uma reversão do déficit comercial (importações maiores que exportações).
Para eles, o país não deve correr o risco de apenas se aproveitar do crescimento dos investimentos estrangeiros, possibilitados pela queda dos juros dos EUA, para financiar esse déficit -cobrindo as contas externas com o chamado dinheiro de curto prazo.
Segundo avaliação de bancos que operam no mercado do dólar comercial (exportações e importações), até sexta-feira haviam entrado no país US$ 680 milhões.
No mercado flutuante (do dólar-turismo), nas duas últimas semanas, a entrada de recursos, segundo as mesmas instituições, tem obedecido a uma média diária em torno dos US$ 100 milhões.
``O mercado internacional está carente de papéis de alta rentabilidade", afirma Cláudio Gonzales, da consultoria MCM, considerando a queda dos juros positiva para o Brasil.
Mas ele alerta que, se em setembro ou outubro os déficits comerciais não forem revertidos, ``o mercado vai voltar a colocar em xeque a política de câmbio".
O ex-presidente do Banco Central Affonso Celso Pastore foi lacônico ao ser indagado sobre essa possibilidade: ``Eu espero que não." Para ele, na verdade, a política atual do governo já ``não é a de cortar o déficit, mas a de financiar o déficit".
Pastore listou as seguintes medidas para justificar sua avaliação: 1) o governo captou recursos emitindo títulos do Tesouro, na Alemanha e no Japão; 2) o governo pratica taxas de juros internas elevadas para incentivar as empresas a buscar empréstimos no exterior; 3) quando existe algum risco cambial, o governo, para acalmar o mercado, emite NTNs (títulos do Tesouro com correção cambial).
Toda a lógica, continua Pastore, é somente a de dar tranquilidade ao mercado.
Concordando em parte com Pastore, o ex-ministro Mário Henrique Simonsen define a queda dos juros como ``nada transcendental", mas ponderou que ``sempre ajuda".
E ajuda, diz o economista-chefe do Citibank, Amaury Bier, pelo ingresso de novos capitais, mas também porque afasta da economia internacional a possibilidade de um cenário recessivo, que poderia afetar tanto preços como volumes de exportação de produtos brasileiros, especialmente commodities agrícolas (como a soja).
Bier discorda de Pastore. Para ele, aumentando tarifas e restringindo as importações, o governo mostra que quer reverter a balança comercial.

LEIA MAIS
sobre câmbio e juros nas págs. 2-5 e 2-8

Próximo Texto: Apesar do calote; Defesa natural; Distinto público; Por enquanto; Fim de festa; De mão beijada; Quem paga a conta; Produção própria; Próxima atração; Presença incômoda; Outra opção; Reforço duplo; Vida pública
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.