São Paulo, domingo, 9 de julho de 1995
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receita para viúvas

CAIO TÚLIO COSTA

O PT acabou se tornando uma agremiação de socorro corporativo
Ficou sem resposta conclusiva pergunta que fiz ao deputado petista Jair Meneguelli no programa "Entrevista Coletiva", da Bandeirantes. Era assim: O PT, com a ajuda da CUT, a Central Única dos Trabalhadores, tem-se empenhado mais em fazer oposição à população (vide greve dos petroleiros) do que em produzir oposição séria ao governo. O que o PT está fazendo para se tornar oposição de verdade?
A resposta (ele garante ser opositor sério) não nega o fato: o partido melhor aparelhado para ser oposição consistente pouco faz para isso.
Longe de mim a teimosia do espanhol da piada: "Hay gobierno? Soy contra". Democracia que se preze precisa ter governo e oposição.
Falta ao presidente Fernando Henrique Cardoso opositores à altura. Egresso da social-democracia, acabou empurrado à direita por força das necessidades políticas e por temperamento (cordial e pouco resistente às pressões). Teve a ajuda dos fisiologistas do PFL e de um pragmatismo burocrático dos pessedebistas. Deixou escapulir o ideal social-democrata, principal e infelizmente na área social. E nenhum outro partido conseguiu arrebatar esta bandeira.
Por isso, reitero banalidades: derrubado o muro de Berlim, despachado o socialismo para as calendas, esperava-se que os antigos militantes do socialismo real também se atualizassem -exatamente porque o país se moderniza tentando conviver com inflação baixa, aprendendo a sobreviver sem reajustes automáticos de salários (mais uma vez o assalariado paga a conta) e sem a indexação, que virou palavrão.
É que dos variados tipos de viúvas, a pior delas é a do socialismo. O PT ainda guarda luto e choraminga sobre o que podia ter sido e não foi. Veja a posição dos petistas em relação à permanência das empresas estatais, dos monopólios do Estado, da defesa do funcionalismo público.
Surgido nos anos 70 ao aglutinar o que de mais moderno poderia haver no movimento sindical, o PT acabou se tornando uma agremiação de socorro corporativo. Deixou de ser "dos trabalhadores" para se transformar num verdadeiro PS, o Partido dos Servidores -sejam de estatais ou do serviço público.
Fazer oposição ao governo, hoje, significa menos defender o funcionalismo (estatal ou público) do que exigir que ele seja eficiente. Alguém iria querer acabar com o monopólio da Petrobrás se ela fosse eficiente? E qual a melhor maneira de aferir a eficiência? Comparando o desempenho com concorrentes.
Mas com a mudança na Constituição, aprovada pelo Congresso, não acabou o monopólio da Petrobrás? Não. Porque a regulamentação em lei ainda é uma dura batalha e o PT estará lá para fazer mais uma vez oposição à modernização.
O exemplo da Companhia Siderúrgica Nacional -lucrativa depois de privatizada, mas que engoliu durante décadas o dinheiro do Estado- é escandaloso em todos os sentidos. Leniência dos governantes, das oposições e dos contribuintes.
Esse exemplo vale para todos os serviços públicos, desde os que comportam as trágicas filas nos hospitais aos que vivem da desinformação nos seus corredores, como o Detran.
Em vez da luta burra em prol das corporações ineficientes, por que não uma batalha impertinente pela eficiência, pela meritocracia também nos variados serviços públicos?

Ilustração: "Tteia", (1991), instalação de Lygia Pape

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