São Paulo, segunda-feira, 10 de julho de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Entrada de Sávio no ataque era inevitável

ALBERTO HELENA JR.
ENVIADO ESPECIAL A RIVERA

A entrada de Sávio no ataque brasileiro que hoje enfrenta o Peru era inevitável. Afinal, o menino transfigurou nosso time nos poucos minutos que pôde jogar contra o Equador. A entrada de Sávio significa não apenas conferir mais velocidade ao ataque, mas reincorporar àquele setor o lateral Roberto Carlos, que, com seu chute potente, é sempre uma arma ofensiva letal. Isso porque o menino rubro-negro desloca-se, dribla com extrema facilidade e ainda, sem ser um matador típico, vira e mexe mete seu golzinho.
Como no treino de ontem, aqui em Rivera, quando Juninho disparou pela direita, passou por dois, e cruzou para Sávio finalizar na cara do gol.

Chego a tempo do treino para ver, na TV, o gol da vitória da Lusa sobre o Santos, enquanto o Corinthians livrava-se com certa folga do União. Aí está um grupo onde se luta para subir, ao contrário do outro grupo, que, pelo visto, será decidido por abandono.

O frio é um espectro que se aquece sob o céu azul de pintura, lá fora, por trás das vidraças vedadas do meu quarto, à espera do incauto que se deixe seduzir pela luminosidade deste sábado em Livramento. Lembra-me uma experiência dolorosa vivida há quase vinte anos, em Hamburgo, durante a excursão da seleção brasileira à Europa e Ásia, nos tempos do saudoso técnico Cláudio Coutinho. Através das transparências de vidro do Hotel Plaza, uma moderníssima e gigantesca torre plantada no centro de um parque verde e acolhedor, essa mesma luz hipnótica seduzia os desavisados a um longo passeio pelas alamedas floridas. Caí na armadilha: cem passos adiante, estava congelado.
Nunca mais, como diriam nossos dominicanos. Liguei a TV e relaxei. Relaxei? Mas, como, se o Palmeiras, o grande Palmeiras de tantos craques consagrados, mal consegue chegar perto da área de um Guarani em crise, esfacelado? Cadê Muller, cadê Rivaldo, cadê Nílson, Edilson, Mancuso, Antonio Carlos? Estão todos lá, mas não estão.
Zap, colho o São Paulo em situação ainda mais constrangedora diante do Mogi. Ah, sim, ia-me esquecendo: antes, vivi minha primeira perplexidade do dia -eis os EUA, os calouros das Américas, batendo o Chile, que nunca chegou a ser uma potência, mas que sempre foi carne de pescoço para brasileiros, argentinos e uruguaios, estes, sim, da América, dentro das quatro linhas: ganharam de 2 a 1.
O mesmo placar que o Mogi, em pleno Morumbi, impingia num tricolor descoordenado, onde apenas o menino Denílson metia as caras e o talento diante de um time bem arrumadinho por Pedro Rocha, e que chegou, pasmem, à liderança de seu grupo, entrando na festa pela porta dos fundos dessa execrável repescagem. Longe de mim desmerecer o Mogi. É apenas um desmerecimento à lógica mais elementar.
Assim, decido desligar a TV e enfrentar o gélido sol que me seduz lá fora. Ao menos, posso esfriar a cabeça.

Texto Anterior: Ingresso vale para duas pessoas
Próximo Texto: Sávio se inspira em Zico; Zagallo iguala recorde hoje
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.