São Paulo, segunda-feira, 10 de julho de 1995
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Jornalismo é o princípio do `Bandido'

Cena de `O Bandido da Luz Vermelha', de Sganzerla

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DE CINEMA

Poucos filmes seriam tão dignos de figurar numa mostra sobre jornalismo no cinema quanto "O Bandido da Luz Vermelha".
Desta vez não há um jornalista no papel principal, para vilão ou herói. A imprensa é o princípio da "mise en scène" de Sganzerla. Ou seja, está na própria concepção do filme.
Basta que apareçam os letreiros luminosos, ou que locutores, à moda do rádio, pontuem escandalosamente os fatos em torno do célebre bandido, o Luz (Villaça).
Ou seja, em "O Bandido" o fato importa tanto quanto sua repercussão: o que se vê é um contraponto àquilo que a imprensa destila, vulgariza apressadamente, transforma em escândalo -de um acontecimento ou de uma vida.
Sganzerla nos joga na estética do precário, das coisas transitórias, daquilo que hoje se lê e nos parece quase tudo, mas no dia seguinte está lá, embrulhando peixe.
Quando o filme saiu -desde então já se opondo ao Cinema Novo- seu autor dizia que queria ver o filme passar nos cinemas "poeira" e depois ser esquecido.
Não era um modo de dizer que não tinha valor. Mas, sim, que o cinema é uma arte quase sempre precária e, muitas vezes, popular.
"O Bandido da Luz Vermelha" é o melhor filme de Rogério Sganzerla, um dos melhores do cinema brasileiro moderno, para o qual representou, a seu tempo, uma revolução: instaurou um olhar crítico de segunda geração, conectado tanto com a Nouvelle Vague francesa quanto com os ensinamentos de Orson Welles.

Ciclo: Jornalismo no Cinema
Filme: O Bandido da Luz Vermelha
Produção: Brasil, 1968
Direção: Rogério Sganzerla
Elenco: Paulo Villaça, Helena Ignez, Luís Linhares, Pagano Sobrinho
Onde: hoje, às 17h, na Sala Cinemateca (r. Fradique Coutinho, 361, tel. 011-881-6542, Pinheiros, zona oeste)

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